terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Tese reassuntiva - História do Cristianismo - Idade Moderna

“A Idade Moderna, ao mesmo tempo se caracteriza por ser a época dos dogmas e das dúvidas. De um lado, vemos a construção de duas novas identidades: a católica e a protestante, cada qual, a seu modo, herdeiras da Cristandade Medieval e síntese do esforço evangelizador num novo contexto.”

O catolicismo e o Protestantismo estão ligados um ao outro como duas partes de um edifício, que somente pode manter-se de pé e firme, se as duas partes se sustentarem mutuamente” [1] – Grings, 1978, pág. 17 apud Kierkegaard, 1952, pág. 213
Desde o cisma que separou Protestantismo e Cristianismo, esses passaram a atacar o outro mostrando o que cada um desses tem de pior; os seus defeitos. Diante disso, os cristãos devem valorizar o que têm em comum e não ficarem nas intrigas das diferenças, pois Cristo não foi dividido (1Cor 1,13). E vê o que os une é a fé no mesmo Cristo; Deus que se encarna e se faz presente na História do seu povo. Por isso, é necessário ver como é o edifício metaforicamente citado acima, onde mostra a vitalidade do cristianismo. Só assim, será possível pensar na unidade dos cristãos, uma vez que “não se ama o que não se conhece”.
Protestantismo
  • Saiu do individualismo;
  • Dedicou à atividade missionária;
  • Distribui a Bíblia, traduzindo-a para o vernáculo, como forma evangelizadora;
  • Preocupou-se, primeiramente, com o movimento ecumênico;
  • Organizou o Conselho Mundial de Igrejas;
  • Institui a vida monacal em seu meio;
  • Reforma litúrgica e aceitação de sacramentos.
Catolicismo
  • Foi protagonista na preocupação dos grandes problemas da humanidade, usando sua autoridade de Mãe e Mestra, contra as guerras e problemas sociais, como a fome, a educação e a opção pelos pobres;
  • Diante das dificuldades, foi capaz de reconhecer as falhas e convocou concílios;
  • Aderiu e tomou força na luta pela unidade dos cristãos;
  • Revigorou a atividade missionária nos vários continentes;
  • Reforma litúrgica;
  • Renovação teológica: mais vivencial e atualizada;
  • Renovação dos Papas: passaram e reformular a mensagem cristã em todas as situações e problemas da atualidade;
  • Renovação no campo da exegese bíblica.

Bibliografia: GRINGS, Dadeus, Vitalidade do Cristianismo no Século XX, Vozes, Petrópolis, 1978.
Frater Henrique, Estudos e documentos, vol. III, pág.159-162.


[1] Adam, W. H., The Living Thougts os Kierkegaard, Nova York, 1952, p.213

Recomendação e breve apresentação do livro de Lima Vaz: Experiência Mística e Filosofia na Tradição Ocidental

Um fenômeno comum, que se tem percebido é a inadequação de alguns termos em determinados contextos, tendo assim uma “deterioração semântica”, levando ao risco, palavras com grande riqueza no seu significado, cair num vocabulário totalmente contrário ao seu uso. Tomo alguns exemplos, antes de citar os que o livro apresenta. O termo ‘leigo’, que é aquele que não é ordenado, numa perspectiva religiosa, passou a ser tido como, o que não sabe sobre determinado assunto, e o ‘ignorante’ que realmente é aquele inepto no assunto, é tido como alguém estúpido e grosseiro. Como esvaziamento semântico, Lima Vaz, coloca a palavra ‘Mística’, que dentre tantas palavras, fora uma das mais vulgarizadas. No sentido original, pode elevar o ser humano, às mais altas formas de conhecimento e de amor que lhe é permitido alcançar na vida.
O termo mística e de seus derivados diz respeito a uma forma superior de experiência, de natureza religiosa, ou religioso-filosófica (Plotino), que se desenrola normalmente num plano transracional – não aquém, mas além da razão -, mas por outro lado, mobiliza as mais poderosas energias psíquicas do indivíduo.” (VAZ, 2000, pág. 09)
A forma original se difere das outras, pois: 1) tem um lugar num plano transracional, indo além da razão; 2) há a conciliação entre inteligência e amor; 3) é pessoal, por isso, não poder ser partilhada; 4) a razão transcende a si mesma e volta para Deus, apresentado como Absoluto.

Antropologia da Experiência Mística
Para compreender a experiência mística, é necessário conhecer o ambiente antropológico a que pertence, pois parte da relação do ser humano e o seu  lugar histórico, com o Absoluto. Essa experiência, subjetiva e objetiva pode ser expressa de forma pedagógica através de um triângulo, que compõe  “místico-mística-mistério”. (VAZ, 2000, pág. 17 apud LOPEZ, 1977)
Vaz, ainda apresenta outros conceitos arquétipos para expressar o “conhecer a si, pelo mais íntimo de si mesmo”, novamente, de forma pedagógica, através de um “quiasmo” expressando o interior-superior, interior-exterior, inferior-superior e inferior-exterior. (VAZ, 2000, pág. 19)
 
Formas da Experiência Mística na Tradição Ocidental
·        A mística especulativa:
É continuação da experiência metafísica no que se refere ao caráter experencial, tendo como sentido o pensamento voltado para o mistério do Ser. Tem por característica, que a define, ser a mística do conhecimento.
A mística especulativa é, portanto, o esforço mais audaz – na mística natural – e o apelo mais radical – na mística sobrenatural – para que o espírito humano, seguindo o roteiro do logos, penetre no domínio do translógico.” (VAZ, 2000, pág. 30)
A mística especulativa tem uma estrutura que tem por eixos, subjetivo: estando relacionado à alma, ao conhecimento, sendo a inteligência no seu mais alto grau; objetivo: reflete a capacidade do humano de conhecer e amar o Absoluto.
  • A mística mistérica
Toda mística é mistérica, apesar de receber essa definição como uma das formas. A experiência mística com Deus faz analogias com os cultos gregos (pagãos), influenciando-a através da história.
é preciso não esquecer que, sendo uma experiência, a mística mistérica é vivida, evidentemente, no campo interior da consciência.” (VAZ, 2000, pág. 46)
  • A mística profética
“Constitui em torno da Palavra da Revelação, tal como é comunicada, recebida e vivida ao longo da tradição bíblico-cristã. Assim como a mística especulativa é a mística do conhecimento – saber e contemplação, gnosis e theoria – e a mística mistérica é uma mística da vida – assimilação e divinização, homoíosis e theíosis -, a mística profética é uma mística da audição da Palavra – fé e caridade, pístis e ágape -, ou seja, é uma mística que floresce no terreno da Palavra de Deus.” (VAZ, 2000, pág. 57)
a mística profética eleva a especulativa e a mistérica, fazendo participar da “sabedoria de Deus no mistério” (VAZ, 2000, pág. 58)
Essa experiência pode ser subjetiva e objetiva, e sua estrutura pode ser apresentada pelo esquema:
Profundidade de Deus
                                   Rm 8,33                       1Cor 2,10
                                 

Contemplação


Mistério
               Cristo Jesus
                                   Fé             Experiência                Palavra

 Difere-se das outras tradições, mantendo o caráter de experiência cristã, através da mediação. Essa mediação tem por centro, como totalidade, Jesus Cristo. Algumas formas que valem ser citadas:
a)      mediação criatural: o ser humano depende de Deus, pois Ele criou tudo;
b)      mediação da graça: exclui o esforço humano e parte de Deus como dom gratuito;
c)      mediação histórica: é o fundamento das outras mediações; parte da concepção da Encarnação do Verbo na História.

Em nível de conclusão, percebe-se que a mística através dos seus esquemas pedagógicos, ajuda o ser humano também ser espiritual, a compreender a sua experiência mística na modernidade. A qual, sem esses diagramas e percepções, o indivíduo moderno fica perdido diante da sua realidade ao Mistério de Deus.

Referência: VAZ, Henrique C. de Lima, Experiência Mística e Filosofia na Tradição Ocidental, Edições Loyola, 2000.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Heresias Cristológicas

Contexto e descrição
Ortodoxia
Docetismo:
Nega a humanidade de Cristo, colocando-a como apenas aparente, segundo o qual Jesus era apenas divino.

Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus;
Como lembra o Evangelho de João: “O Verbo se fez carne...”
É combatido por Irineu de Lião (Adversus Haereses)
A condenação foi reafirmada no Concílio Ecumênico de Calcedônia (451).
Ebionismo:
Jesus Cristo é Messias, mas não é Deus;
Jesus Cristo não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado por José com Maria por meio carnal;
Ter-se-ia tornado Filho de Deus pelo batismo;
Enfatiza a natureza humana de Cristo.
É combatido pelos Padres da Igreja: Inácio de Antioquia (Epístola aos Filadélfos, cap. IV); Irineu de Lião (Adversus Haereses); Eusébio de Cesaréia (História Eclesiástica); Tertualiano (Apêndice, Contra todas as heresias); Orígenes (Filocalia; Comentário sobre Mateus; Contra Celso); Jerônimo de Strídon (Carta para Agostinho); Agostinho de Hipona (Carta para Jerônimo); Epifânio (Panárion)
Adocionismo: É uma das ramificações do monarquismo (Sendo a outra o modalismo);
Jesus nasceu humano e foi adotado como Filho de Deus pelo batismo.
No concílio de Antioquia (séc. III), a Igreja afirma que Jesus é Filho de Deus por natureza e não por adoção;
Condenado nos concílios de Frankfurt (794, pelo Papa Adriano I) e Roma (799, pelo Papa Leão III)
Cristianismo-gnóstico:
Apresenta um cristianismo mais profundo e filosófico, principalmente em relação às Parábolas de Jesus. Deu origem a várias correntes heréticas.
Foi combatido através das correntes heréticas a qual deu origem.
Arianismo:
Jesus é filho de Deus, e não é Deus, por isso não é consubstancial a Ele (“Pai Eterno”);
É subordinado ao Pai;
É condenado pelos concílios de Nicéia I (325) e Constantinopla I (381);
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.”

Apolinarismo:
Jesus possuía um corpo humano e era dotado de uma mente divina.
Criticado pelos Padres da Igreja: Atanásio de Alexandria, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo;
Condenado no Concílio de Constantinopla (381).
Nestorianismo:
Afirmava a diferença entre a natureza humana e divina de Jesus, sendo vagamente unidas;
Afirmava que Maria é mãe de Cristo e não mãe de Deus.
Condenado no Concílio de Éfeso (431).
Cristo é uma substância e uma natureza;
A Virgem Maria é a mãe de Deus
Monofisismo:
Afirmava que Cristo tinha apenas uma natureza, onde a humanidade foi absorvida pela divindade.
Condenado no Concílio de Calcedônia (451).
Monotelismo:
Jesus Cristo, possui duas naturezas, mas havia só uma vontade, identificada pela humana com a divina.
Condenado no Concílio de Constantinopla III (681)
Eutiquianismo:
A natureza divina de Cristo consome sua natureza humana.
Essa visão é condenada no Concílio de Calcedônia (451).
Miafisismo:
Cristo tem as duas naturezas: humana e divina, mas que se unem formando apenas uma única Natureza de Cristo.
Essa visão é condenada no Concílio de Calcedônia (451).
Sabelianismo:
Jesus e Deus não são pessoas distintas, mas dois modos de Deus se mostrar.
É criticado pelos Padres da Igreja: Hipólito de Roma, Tertuliano, Dionísio de Roma.
Os Concílios Constantinopla I (381) e III (680) invalidam o batismo de Sabélio, junto com sua doutrina.
Judeu-cristianismo:
Somente passou a ser heresia nos conflitos internos entre os judaizantes e os pagãos convertidos; os primeiros consideravam as práticas judaicas autênticas para o “novo” judaísmo nascente (cristianismo).
Como heresia cristológica, é a crença monoteísta em Deus, não permitindo uma filiação do Pai.
Foi superado pelas primeiras comunidades, é possível perceber isso na formação da comunidade de Mateus e no primeiro Concílio, o de Jerusalém, descrito em Atos dos Apóstolos.
A crença herético-cristológica, foi "combatida" através dos Evangelhos, os quais, afirmam a filiação divina de Cristo (Tendo mais ênfase, o Evangelho de João).


A ortodoxia Cristológica e Trinitária é possível ser vista através dos seguintes Credos, que sintetizam o ato de fé, dando uma resposta aos grupos heréticos que surgiram.

Credo de Niceia e Constantinopla
Credo de Éfeso e Calcedônia
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigênito de Deus,
gerado do Pai antes de todos os séculos
Deus de Deus, Luz da luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus,
gerado, não feito,
da mesma substância do Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E, por nós, homens,
e para a nossa salvação,
desceu dos céus:
Se encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria,
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado
sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
E subiu aos céus,
onde está assentado à direita de Deus Pai.
Donde há de vir, em glória,
para julgar os vivos e os mortos;
e o Seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo,
Senhor e fonte de vida,
que procede do Pai (e do Filho);
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele falou pelos profetas.
Creio na Igreja
Uma, Santa, Católica e Apostólica.
Confesso um só batismo para remissão dos pecados.
Espero a ressurreição dos mortos;
E a vida do mundo vindouro.
Amém. 
Cremos em um só Deus, Pai Todo-Poderoso,
criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo,
O Filho de Deus,
unigênito do Pai,
da substância do Pai;
Deus de Deus,
Luz de Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
gerado, não criado,
consubstancial ao Pai;
por quem foram criadas todas as coisas
que estão no céu ou na terra.
O qual por nós homens e
para nossa salvação, desceu (do céu),
se encarnou e se fez homem.
Padeceu e ao terceiro dia
ressuscitou e subiu ao céu.
Ele virá novamente
para julgar os vivos e os mortos.
E (cremos) no Espírito Santo.
E quem quer que diga que houve um tempo
em que o Filho de Deus não existia,
ou que antes que fosse gerado ele não existia,
ou que ele foi criado daquilo que não existia,
ou que ele é de uma substância
ou essência diferente (do Pai),
ou que ele é uma criatura,
ou sujeito à mudança ou transformação,
todos os que falem assim, são anatemizados
pela Igreja Católica e Apostólica.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: ITINERÁRIO ESPIRITUAL

O itinerário do homem se baseia no tempo e na história, por isso, está sujeito às mudanças; às evoluções.
“Para Teilhard de Chardin, a evolução não se aplica apenas à origem do universo e da espécie humana, mas é <<uma condição geral a que devem dobrar-se e submeter-se, para serem possíveis e verdadeiras, todas as teorias, todas as hipóteses, todos os sistemas. Luz esclarecendo todos os fatos, curvatura a que devem amoldar-se todos os traços: eis o que é a evolução>>”.[1] [S. De Fiores, pág. 604]
Para o cristão, que é além de ser humano, um ser espiritual, esse caminho de evolução também deve ocorrer, principalmente, no que compete a essa espiritualidade. Seu itinerário será afetado e/ou influenciado pela cultura, porém, deve percorrê-lo aos passos de Cristo. Tendo Jesus Cristo como princípio base, fundamento e direção para salvação, não terá problemas na sua peregrinação. Portanto, através da conversão deve permitir Cristo em sua vida.
O itinerário espiritual mostra um caminho a seguir:
·        Ser como crianças e adultos reciprocamente, como Paulo adverte em 1Cor 14,20: Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças; mas quanto ao julgamento, sede adultos.”
“[...] o cristão não deve ficar parado na iniciação ou etapa infantil, caracterizada pela inexperiência, pela inconstância, pela incapacidade para aprofundar na sabedoria divina; ele é chamado a tornar-se adulto em Cristo, adquirindo a maturidade do discernimento, a impermeabilidade ao erro e a vida segundo a verdade e a caridade.” [S. De Fiores, pág. 608]
·        Deixar de ser imperfeito e ser perfeito, que é possível somente através do amor mútuo [S. De Fiores, pág. 608];
·        Através do amadurecimento na fé, deixar de ser um ignorante e passar a ser um mestre que é capaz de comunicar a revelação;
·        Por ser um ser carnal, o cristão está inserido na realidade humana, mas é chamado a ser espiritual, onde sua ação é movimentada pelo Espírito Santo. [S. De Fiores, pág. 609]
O cristão que vive sua espiritualidade da forma mais plena, tendo Cristo como causa e conseqüência de tudo que faz, tem em seus momentos de espiritualidade elementos que não fiquem apenas na contemplação, mas que é pensada e ativada através das palavras e ações de Cristo. Essa espiritualidade, a do cristão, articula um tripé: inserida na ação e oração. [cito o prof. Luciano Costa Santos, em sua fala no II Encontro Mineiro-Capixaba de Universitários Cristãos – Doutor em Filosofia pela UFRS].


[1] P. Teilhard de Chardin, El fenómeno humano, Taurus, Madri, 1967, 4º edição, 266.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

domingo, 6 de novembro de 2011

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: ORAÇÃO

O homem, não é apenas sapiens, ser que pensa, mas também orans, ser que ora, que reconhece sua natureza, a história da salvação e dá sua resposta através da oração. Com a oração, somos capazes de encontrar nossa identidade junto a Deus, conhecendo-o mais, pois quando estamos orando para Ele, reconhecemos Nele o motivo da nossa vocação. Os Padres da Igreja diziam que não é possível falar de Deus se não o experenciamos e conversamos com Ele.
Na oração, se reconhece a fé num Deus pessoal, vivo; na sua presença real e na confiança de que Ele nos falou e continua nos revelando. As orações feitas aos santos e a Virgem Maria se diferem por não serem de culto ou adoração, mas da manifestação da fé comunicada na comunhão dos santos. [B. Häring, pág. 843]
“O cristão que reza sabe o que é a vida eterna: conhecer a Deus como Pai do Senhor Jesus, conhecer Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mediador entre nós e o Pai, e crer no Espírito Santo que ora em nós.” (B. Häring, pág. 842)
Deus se apresenta como aquele que ama sua obra, por isso, se encarna através de Jesus, Deus-Filho e como um pai que ama seu filho, está sempre atento e à espera das orações dos seus filhos, toda humanidade. E ao escutar sua palavra, respondemos dizendo “Graças a Deus” ou “Glória a vós, Senhor”, que acolhemos sua palavra com gratidão. (B. Häring, pág. 846)
Assim como Jesus, chamamos a Deus de Pai, e como “filhinhos”, pedimos e agradecemos. Ele se deixa ser visto através de Jesus Cristo, passando de Deus criador onipotente para o Deus que ama sua criação. Jesus nos ensina a rezar e o Espírito Santo nos dá sabedoria e gosto pela oração correta (B. Häring, pág. 843). Logo a Santíssima Trindade é a melhor comunidade, de amor, de fonte e sentido para nossa oração.
A oração do cristão tem seu ápice na eucaristia. Nela adoramos o Pai pelo Cristo Total e através do Espírito, recebemos o dom capaz de nos transformar.
A eucaristia é o centro do culto da Igreja; ela sempre cria de novo a comunhão de fé, de esperança, de caridade e adoração em espírito e em verdade”. (B. Häring, pág. 845)



FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: ESPIRITUALIDADE CONTEMPORÂNEA

Para um início de estudo, faz-se necessário entender como alguns termos são concebidos pela atual formação da sociedade, onde espiritualidade e santidade são reduzidas no seu sentido. Espiritualidade é usada apenas como referência aos eremitas e aqueles que se retiram em oração e/ou meditação nas cavernas e no deserto; santidade como uma loucura na forma que a pessoa toma como opção de vida. Nos dois casos, nessa sociedade moderna, são coisas inúteis.
Surgiu uma rejeição à espiritualidade, já que consideram essa condição inconcebível no tempo em que vivem. Em contraste a isso, cresceu dentro dessa mesma sociedade, pessoas que procuram realizar seu lado espiritual, místico, tendo grande procura pelos grupos místicos orientais. Porém, nos últimos anos, cresceu o interesse pelo retorno à Tradição, à espiritualidade cristã, tendo destaque São João da Cruz.
O renovado interesse espiritual de nossa época brota de profundas exigências de autenticidade, de dimensão religiosa, de interioridade e de liberdade, que não satisfaz a sociedade consumista.” [S. de Fiores, pág.341]
Após a Revolução Industrial, o mundo tem passado por constantes mudanças, e evoluções no campo científico e tecnológico, porém, esse avanço esqueceu-se do fundamental, atender ao que o ser humano mais necessita; o que é próprio de si, tendo uma involução no que compete ao espiritual. Esse “vazio” espiritual força a estar buscando alternativas, nem sempre satisfatórias.
Em confronto a “maquinização”, tem-se buscado o esoterismo, às respostas mágicas para as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. Por isso, são comuns as consultas as cartomantes, quiromantes e outras formas de adivinhação e fórmulas mágicas para resolução de problemas.
No ocidente, como já citado acima, houve um interesse à cultura oriental, principalmente, no que se refere ao campo espiritual, originando, um novo “comércio”, onde se busca por opções em que aquele que participa dos encontros não precisa aderir ao grupo. “Pega” o que convém em cada um, originando uma “religião” individual.
Um fenômeno que tem sido comum, sobretudo onde há uma maioria jovem, é mesclar elementos de uma cultura e/ou grupo e/ou tribo específicos aos elementos cristãos. Formando novos grupos religiosos e até novas igrejas, sem qualquer ligação com as igrejas históricas. Esses grupos alternativos têm como característica, o pentecostalismo ou um rigorismo baseado na leitura fundamentalista das escrituras.
Essas formas de espiritualidades apresentadas mostram a insatisfação, ou mesmo a insegurança da sociedade “racional” dominada pela idéia de progresso e poder econômico, serem os objetivos fundamentais para se preocupar. Cabe ao cristianismo atender à sociedade nessa busca, pois somente uma espiritualidade cristã é capaz de satisfazer essas necessidades de época. Uma compreensão de espiritualidade deve “morrer” e ressuscitar renovada para atender essas necessidades, porém, uma renovação sem contradizer seu depósito da fé, senão perderia seu caráter de fé revelada tornando-se apenas histórica.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

sábado, 29 de outubro de 2011

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: SEXUALIDADE

Vive bem a espiritualidade, quem consegue conviver bem com a sexualidade, assim como Jesus, que soube conviver e manter amizade com mulheres, sabendo exprimir suas relações amistosas, carinho, dedicação e de amor com todas elas.
Nenhum ser humano, pode negar sua sexualidade, mas cabe a ele buscar vivê-la bem, pois um amadurecimento na sexualidade, evita um desregramento sexual, tornando algo impulsivo. A sexualidade permite o gozo, o prazer que pode ser exprimido na espiritualidade.
O percurso sexual, da infância à adolescência, passa pela fase oral (chupar), depois a zona anal até a fálica. O amadurecimento sexual correto, no caso do adolescente, faz com que ele não fique no estado orgiástico, mas que consiga conciliar o estado eros com o ágape. O amor, no seu estado pleno, vindo da sexualidade, permite a pessoa amar à outra sem desejos profundamente carnais, e quando há a necessidade de um contato íntimo, este tem grande valor, exprime a necessidade de fazer do outro, parte de si. Sartre diz que
 “a carícia revela a carne do outro como carne para mim e para ele”.
Essa realidade deve ser vivida no matrimônio, já que é através do matrimônio, que na sexualidade pode reinar a paz e a harmonia.
A sexualidade está tão impregnada no modo de ser, que dela vai nascer certas características de personalidade, se bem vivida ou não. Nos casos em que é mal vivida, pode gerar patologias [pág. 1056]. (Para isso, Freud explica).
Desde o início do Gênesis, vemos a relação de Deus com o homem e a mulher. A princípio, pode-se pensar apenas na parte “machista” do texto, que de certa forma, apresenta Deus como varão, a mulher como aquela que tende a levar o homem para o mal e o homem como aquele que a repreende. Nesse sentido, convém entender que Deus diz que os dois, homem e mulher, devem manter uma relação interpessoal de serviço e dom.
Mesmo que o Antigo Testamento apresente um pudor em relação à sexualidade e a purificação, o Novo Testamento não estava preocupado, de forma que, a comunidade cristã primitiva não realiza atos de purificação. [pág. 1057]
<<Segundo o ensinamento de Jesus, não se provoca a impureza pelo contato com as coisas, sempre que exista pureza de coração (MT 5,8). A impureza é produzida unicamente pelo pecado. “Para os puros [pela fé] todas as coisas são puras” (Tt 1,15; Rm 14,20), até a prática sexual. O ato sexual não contamina, somente exige ser praticado moralmente, isto é, com “domínio de si” (eukrateia). Só é preciso purificar-se da impureza que nasce do pecado (1Jo 1,7; Hb 9,22) [...] que é obtido por meio do sangue de Cristo (1Jo 1,7) e graças a sua palavra (Jo 15,3).>>

Somente a união das qualidades masculinas e femininas é que permite estabelecer a plena integridade do homem. O homem projeta e transforma o mundo, enquanto a mulher guarda e protege a vida. O homem é abstrato e a mulher concreta, o homem é a razão e a mulher sentimento, o homem se orienta para as coisas e a mulher para as pessoas”.
Isso sob um entendimento de integração dialética [pág. 1060]. Portanto, a mulher não deve ser relegada ao sexo, a maternidade e ao lar, como lembra Tomás de Aquino, erroneamente:
Porque para qualquer outra atividade o homem recebe melhor serviço de outro homem do que recebe da mulher” (S. Th., I.q.2,a.1)
E sim, deve ser restituída a sua condição de pessoa livre que projeta o mundo. [pág. 1065]
É possível viver uma sexualidade casada com a espiritualidade de uma forma plena. Desde que a sexualidade não seja minimalizada ao aspecto genital, e sim a todo o corpo, não só individual, mas em conjunto, do casal. Numa relação sexual, é necessário saber que ali não há uma relação individual e sim uma relação “eu-outro”, de total entrega de si e acolhimento da presença do outro [pág. 1056]. A sexualidade entendida como o eros, também reflete o amor, pois o eros é senão o amor ainda amadurecendo. Nessa instância, ele se torna filia, até se tornar um pleno ágape. Convém lembrar que cada um deve viver a sexualidade à sua maneira.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: VOCAÇÃO

Quando se toma o termo ‘vocação’, é adotado para seu significado apenas o que é religioso e sacerdotal, descartando as outras vocações (não religiosas), rebaixando-as somente como meras profissões. O que é um problema grave, pois esses grupos supracitados se apossaram da definição como algo próprio deles, deixando até mesmo os leigos, também engajados na vida pastoral, sem o uso da palavra, como resposta ao chamado de Deus, querendo dar a seu significado um caráter de Graça.
Mesmo a vocação ser tida como algo da pessoa expressar sua relação com Deus, ela não difere o que é sagrado ou profano, desde que seja uma resposta a um chamado. Consagração que é o termo correto, da adesão ao chamado de Deus.
Ainda, sob o conceito de vocação no âmbito religioso, deve-se entender que: se vocação é a resposta a um chamado, então quem faz o chamado é Deus. E há várias formas de interpretar e “ouvir” esse chamado. Ela nasce como uma pulsão interior, uma inquietação para algo, que é construído a partir da sua história no mundo e no ambiente em que vive, como a família e círculos sociais que freqüenta.
Não existe vocação melhor que outra; existem escolhas certas e erradas, que faz com que a vocação se torne apenas uma profissão. Quando há um verdadeiro discernimento, e uma escolha correta, isto é, saber ouvir ao chamado, é necessário ter um acompanhamento sempre, amadurecendo sempre a escolha feita, pois é comum para qualquer ser humano, as dúvidas e os momentos de crise. Um orientador vocacional é a pessoa mais indicada porque é preparado para isso, e uma relação de “um com o outro” ajuda a pensar. Nas escolhas existem renúncias, e não apenas opções, pois que escolhe uma vocação renunciou todas as possibilidades de tomar outra para si.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Rerum novarum e Deus Caritas est


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral (Social) - 29/09/2011.
Duas encíclicas, distantes 114 anos no tempo cronológico e bem próximas no conteúdo que apresentam. A primeira, Rerum novarum, escrita pelo Papa Leão XII, a 15 de maio de 1891, vai tratar sobre a condição dos operários, debatendo a jaez das classes trabalhadoras. A segunda, Deus Caritas est, escrita pelo Papa Bento XVI, de 25 de dezembro de 2005, direcionada aos bispos, presbíteros e diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre o amor cristão, ou melhor, o amor de Deus pelo ser humano.
A Rerum novarum nasceu no período da revolução industrial. A partir disso, o papa Leão XIII vai criticar a atitude dos grandes empresários quanto à atitude deles com seus funcionários, fazendo-os trabalhar em situações precárias, escassas e com pouco rendimento como retorno ao trabalho; operários e patrões devem o mútuo respeito, os primeiros não prejudicando os seus empregadores, e em situação de desgosto, não usar a violência, os segundos, reconhecendo o valor humano do outro, não provendo contra a economia dos mais pobres, não os tornando mais pobres.
Lembra que os socialistas procuraram resolver esse problema, e faz uma nova crítica aos socialistas, valorizando a propriedade particular, pois essa é para o homem um direito natural [5]: “Não vêem, pois, que despojam assim esse homem do fruto de seu trabalho; porque, afinal, esse campo preparado com arte pela mão do cultivador, mudou completamente de natureza, era selvagem, ei-lo arroteado: de infecundo, tornou-se fértil; o que tornou melhor, está inerente ao solo e confunde-se de tal forma com ele, que em grande parte seria impossível separá-lo. Suportaria a justiça que um estranho viesse então atribuir-se esta terra banhada pelo suor de quem a cultivou? Da mesma forma que o efeito segue a causa, assim é justo que o fruto do trabalho pertença ao trabalhado.” [7]. Em seguida, coloca a família como uma instituição que não deve ser administrada pelo Estado.
Nas palavras da encíclica, não é o comunismo que vai melhorar a sociedade, já que isso é uma responsabilidade da Igreja, “é a Igreja, efetivamente que haure no Evangelho doutrinas capazes ou de pôr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando-o de tudo o que ele tenha de severo e áspero; a Igreja que não se contenta com esclarecer o espírito de seus ensinamentos, mas também se esforça em regular, de acordo com eles a vida e os costumes de cada um; a Igreja, que, por uma multidão de instituições eminentemente benéficas, tende a melhorar a sorte das classes pobres; a Igreja, que quer e deseja ardentemente que todas as classes empreguem em comum os seus conhecimentos e as suas forças para dar à questão operária a melhor solução possível; a Igreja, enfim, que julga que as leis e a autoridade pública devem sem dúvida, com medida e prudência, prestar seu concurso para esta solução [10].
Ainda vai discutir as obrigações do governo, a importância dos negócios e do trabalho. Porém, interessa nesse estudo, a compreensão social a partir da encíclica seguinte, a Deus Caritas est. Concluindo, e posto como solução para os problemas coevos, cita a Caridade, das virtudes teologais, a única que não acaba, mesmo em compreensão escatológica. Dessa apreensão, faz necessário usar o texto de Leão XIII, ipsissima verba: “Vede, Veneráveis Irmãos, por quem e por que meios esta questão tão difícil demanda ser tratada e resolvida. Tome cada um a tarefa que lhe pertence; e isto sem demora, para que não suceda que, adiando o remédio, se tome incurável o mal, já de si tão grave.
Façam os governantes uso da autoridade protectora das leis e das instituições; lembrem-se os ricos e os patrões dos seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas; e, visto que só a religião, como dissemos no princípio, é capaz de arrancar o mal pela raiz, lembrem-se todos de que a primeira coisa a fazer é a restauração dos costumes cristãos, sem os quais os meios mais eficazes sugeridos pela prudência humana serão pouco aptos para produzir salutares resultados. Quanto à Igreja, a sua acção jamais faltará por qualquer modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se possa desenvolver.
Nós desejamos que compreendam isto sobretudo aqueles cuja missão é velar pelo bem público. Em-preguem neste ponto os Ministros do Santuário toda a energia da sua alma e generosidade do seu zelo, e guiados pela vossa autoridade e pelo vosso exemplo, Veneráveis Irmãos, não se cansem de inculcar a todas as classes da sociedade as máximas do Evangelho; façamos tudo quanto estiver ao nosso alcance para salvação dos povos, e, sobretudo, alimentem em si e acendam nos outros, nos grandes e nos pequenos a caridade, senhora e rainha de todas as virtudes. Portanto, a salvação desejada deve ser principalmente o fruto duma grande efusão de caridade, queremos dizer, daquela caridade que compendia em si todo o Evangelho, e que, sempre pronta a sacrificar-se pelo próximo, é o antídoto mais seguro contra o orgulho e o egoísmo do século. Desta virtude, descreveu S. Paulo as feições características com as seguintes palavras: «A caridade é paciente, é benigna, não cuida do seu interesse; tudo sofre; a tudo se resigna»” [37].
Terminando o texto de Leão XIII e iniciando o de Bento XVI, a caridade, toma um aspecto mais profundo. O do amor de Deus. A atual encíclica é dividida em duas partes: a primeira sobre a unidade do amor na criação e na história da salvação; a segunda, que aprofunda o presente estudo, com o tema: Caritas – A prática do amor pela Igreja enquanto “comunidade de amor”.
Bento XVI redime a palavra amor, que estava sendo mal usada através da história, tornando-se um objeto de uso, uso errôneo na classificação, desejo e impulsos humanos. E coloca que o Amor está além, principalmente quando este vem de Deus: “Deus ama tanto o ser humano, que tendo-se feito, ele próprio, homem, segue-o até a morte e, desse modo, reconcilia justiça e amor” [10].
Em retribuição ao amor de Deus, mostramo-lo a nosso próximo, assim como Jesus, Deus-Filho fez. Nessa perspectiva, a encíclica Deus Caritas est encontra com a Rerum novarum, uma vez que reconheço no rosto do próximo o rosto de Deus, e percebo que o próximo é aquele que precise de mim e eu posso ajudá-lo [15]. “Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como ele me ama [18].
E como a Igreja exerceu a caridade ao longo da sua história?
“Deus é amor”, é caridade, por isso, seguindo o que Jesus ensinou que devemos amar ao próximo, e usando as palavras do doutor da lei que é narrado no Evangelho de Lucas, “Quem é meu próximo?” toma-se como discussão de quem a Igreja se tornou próxima ao longo da sua história.
Desde o início da Igreja, a caridade foi uma grande e destacável característica, sendo os bispos grandes pastores de um rebanho desamparado e necessitado, ajudavam e respeitavam os pobres e cárceres com grande respeito. Logo, com Constantino, os bispos de Roma serão concebidos como “pater pauperum”.
Nesse período de Igreja pós-apostólica, surgiram os hospitale para acomodar e cuidar dos desamparados e enfermos. Era um refúgio para os pobres, onde era notável a essência de uma caridade cristã, que em pouco tempo se espalha por toda parte, ganhando seguidores empenhados em fazer a caridade.
Como exemplos de pessoas dedicadas ao povo, destacam-se Ambrosio, que criticava os ricos; Jerônimo, que transmitiu exemplos de caridade para o povo; Senador Panáquio e sua esposa Paulina, que dedicavam aos pobres e criaram um hospital; São Francisco de Assis que abandonou tudo para ter uma vida humilde e fazendo caridade; Pontífices como: Leão Magno, Gelásio I e Símaco.
No final da Idade Média, a devoção ao protetor do trabalhador, São José era grande, por isso dava ênfase que os pobres eram uma desgraça da sociedade, que sua condição não o permitia melhorar de vida. Ser pobre era ser considerado marginal.
Os bispos perderam sua essência, e deixaram de ser “pai dos pobres” e passaram a ser pessoas que cobiçavam grande poder e dinheiro. Em determinadas situações, chegavam ao extremo de não consagrar o oficio divino, não sepultar ou realizar procissões por não receberem a quantia de dinheiro que queriam.
Apesar disso, os ricos davam um pouco do que tinham aos mais necessitados, mesmo que fosse o mínimo. Com isso, a miséria não foi tão grave. Daí surgiu a idéia de que nenhuma migalha deve ser jogada fora, tudo deve ser consumido.
Porém, a Igreja não abandonou completamente seus pobres, também surgiram congregações religiosas, como os franciscanos e os dominicanos, que viviam em lugares periféricos e dedicavam suas vidas aos mais necessitados. Diante desse problema, e voltando a encíclica, é notório lembrar que a Igreja acorda para essas realidades, como foi visto na Rerum novarum sobre os operários.
A Igreja, não deve tomar o lugar do Estado, mas na sua missão evangélica, tem o dever de estar pronta para iniciar mudanças e mediar conflitos entre Estados. Na sua missão da Caridade, do Amor, cabe a cada fiel, corpo vivo da Igreja, zelar por essas mudanças na sociedade. Pois o Amor é uma prática feita em comunhão.
Portanto, as encíclicas Rerum novarum e Deus Caritas est, apresentam em comum, é o compromisso do cristão em exercer as mudanças na sociedade, e assim como Jesus Cristo, anunciar o Reino de Deus. Por isso que devemos permanecer no Amor, como lembra São Paulo, só o Amor não passará.