segunda-feira, 6 de abril de 2015


Isaac Asimov prevendo o impacto da Internet

Tradução: Flávio Pavanelli (Marketing Digital)
Publicado a 13/11/2013 - https://www.youtube.com/watch?v=TCYIpwAgiwg

Entrevista - "O Mundo das Idéias"

ISAAC ASIMOV: Uma vez que tenhamos canais, computadores em cada casa, cada um deles ligado a "bibliotecas" enormes, onde qualquer pessoa possa fazer perguntas e ter respostas, obter materiais de referência sobre qualquer assunto em que esteja interessada em saber, desde a sua infância. Por mais bobo que pareça para alguém, é o que você está interessado, e você pode perguntar, descobrir e pode seguir o assunto. Você pode fazê-lo em sua própria casa, no seu ritmo, na direção que quiser e a seu próprio tempo. Então todos gostarão de aprender. Hoje em dia o que as pessoas chamam de aprendizado é algo imposto a você. E todo mundo é obrigado a aprender a mesma coisa, no mesmo dia, na mesma velocidade e na sala de aula. Mas todo mundo é diferente. Para alguns, a aula pode ser muito rápida, lenta demais para outros e para alguns até mesmo na direção errada. Mas dê a eles uma chance, além da escola, eu não digo que vamos abolir a escola, mas além da escola, para seguir a sua vocação desde o início.

BILL MOYERS: Eu adoro essa visão, mas o que pensa do argumento de que as máquinas, como computadores, desumanizam a aprendizagem?

ISAAC ASIMOV: Bem, na verdade, é justamente o contrário. Parece-me que é através desta máquina que, pela primeira vez, vamos ser capazes de ter uma relação "um-para-um" entre a fonte de informação.
Bem, nos velhos tempos, tempos atrás, você costumava ter tutores para crianças. Uma pessoa que pudesse pagar, contratava um pedagogo, um professor, ele iria ensinar as crianças e se ele conhecesse bem seu trabalho, ele adaptaria seus ensinamentos aos gostos e habilidades dos alunos. Mas quantos tinham recursos para contratar um pedagogo? A maioria das crianças ficou sem educação. Então chegamos ao ponto em que era absolutamente necessário educar a todos. A única forma que poderíamos fazer era ter um professor para um grande número de alunos, e no intuito de organizar adequadamente a situação lhe demos um currículo para ensinar. Mas quantos professores são realmente bons nisso? Como em tudo na vida, o número de professores é muito maior do que o número de bons professores. Portanto, ou temos uma relação " um-para-um" voltada para muito poucos, ou uma "um-para-muitos" para muita gente. Agora, há a possibilidade de "um-para-um" e para muitos! Todos podem ter um professor, sob a forma de acesso aos conhecimentos acumulados da espécie humana.

BILL MOYERS: Através das "bibliotecas" que estarão conectadas ao computador na minha mesa, na minha casa. Eu posso sentar lá e chamar... mas e se eu quiser aprender apenas sobre beisebol?

ISAAC ASIMOV: Está tudo bem. Você aprende tudo o que quiser sobre o beisebol porque quanto mais você aprende sobre beisebol, mais você poderia se interessar por matemática e tentar descobrir o que eles querem dizer com essas médias estatísticas, médias de rebatidas e assim por diante. Você pode, no final, tornar-se mais interessado em matemática do que em beisebol se você seguir sua própria vocação e não for forçado. Por outro lado, alguém que esteja interessado em matemática, pode de repente encontrar-se muito intrigado pelo problema de como você joga uma bola em curva, e pode envolver-se com física esportiva... por que não? Por que não?

BILL MOYERS: Mas você sabe Isaac Asimov, temos um problema, temos um péssimo histórico neste país em oferecer às crianças pobres, nem mesmo boas salas de aula, e me pergunto se a nossa sociedade pode aparelhar-se e fornecer a todos, inclusive crianças pobres, bons computadores.

ISAAC ASIMOV: Talvez não no comecinho você sabe, mas é como se você se perguntasse: "Será possível fornecer a todos neste país água potável?" Há muitos países onde é impossível obter água potável, exceto em circunstâncias muito incomuns. Essa foi uma razão para que as pessoas começassem a beber cerveja e vinho, porque o álcool matava os germes, e se você não bebesse isto, você morreria de cólera. Mas há lugares onde você pode fornecer água potável para quase todos. Os EUA provavelmente fornecem abastecimento de água limpa para a maioria de sua população, talvez mais do que qualquer outra nação poderia. Não é de se esperar que todos tenham um computador perfeito de imediato, mas tentaremos isso, e com o tempo, acho que mais e mais o terão. Assim como, pelo amor de Deus, quando eu era jovem, poucas pessoas tinham automóveis, poucas pessoas tinham telefone em sua casa, e quase ninguém tinha um aparelho de ar condicionado. Ora, estas coisas são muito comuns hoje em dia, quase universais. Pode ser da mesma maneira.

BILL MOYERS: Então, em certo sentido, cada aluno terá a sua própria escola particular?

ISAAC ASIMOV: Sim, e esta escola pertence a ele ou ela, ele será o único a decidir sobre o que ele vai aprender, sobre o que vai estudar. Veja bem, isso não é tudo o que ele vai fazer. Ele ainda estará indo para a escola para algumas coisas que ele tem que saber. Certo, e também a interação com outros alunos e com os professores. Ele não pode fugir disso, mas ele tem que procurar a diversão da vida, que é seguir sua própria vocação.

BILL MOYERS: Essa revolução que você está falando, a aprendizagem pessoal, não é apenas para os mais novos certo?

ISAAC ASIMOV: Não, e isso é um ponto importante, não é só para os jovens. Esse é outro problema com a educação como a temos agora. As pessoas pensam na educação como algo que se pode terminar. E mais, quando se termina, que é um rito de passagem para a idade adulta.

BILL MOYERS: Mundo Real, eu terminei...

ISAAC ASIMOV: Certo! "Terminei a escola, eu não sou mais uma criança" e, portanto, qualquer coisa que lembre da escola - ler livros, ter ideias, fazer perguntas - é coisa de criança. Agora você é um adulto, você não faz mais esse tipo de coisa, entende.

BILL MOYERS: E como a prisão, a recompensa da escola está em sair. Os garotos dizem, "quando você vai se formar e sair?"

ISAAC ASIMOV: Toda criança sabe que, a única razão pela qual ela está na escola é porque ela é criança, pequena e fraca, e se conseguir sair antes do previsto, se sai antes, é porque ele é um homem precoce.

BILL MOYERS: Isso é totalmente verdade, eu falei com alguns jovens que abandonaram a escola, e eles pensam que se tornaram homens apenas porque estão fora dela. O que há de errado com eles?

ISAAC ASIMOV: Bem, o que está errado com eles é que você tem todo mundo ansioso para não mais aprender, e até se envergonham de voltar a estudar. Mas se você proporciona algo como isto, de qualquer um, a qualquer idade, pode aprender por si mesmo, pode-se continuar sempre interessado. Não há razão, se você gosta de aprender, para que você pare em uma determinada idade. As pessoas não param de fazer coisas que gostam apenas porque elas atingem uma certa idade. Eles não param de jogar tênis apenas porque fizeram quarenta anos. Eles não param com o sexo apenas porque completaram quarenta. Eles continuam se podem se divertir e com o aprendizado será a mesma coisa. O problema com a aprendizagem é que a maioria das pessoas não gosta dela por causa das circunstâncias. Faça que seja possível gostar de gostar de aprender e eles vão continuar aprendendo. Há a famosa história sobre Oliver Wendell Holmes, que viveu bem até seus noventa anos. Certa vez ele estava no hospital, não tinha muito tempo de vida e já tinha mais de noventa. O presidente Roosevelt foi visitá-lo, e lá estava Oliver Wendell Holmes lendo uma gramática grega. Roosevelt disse: "Por que você está lendo uma gramática grega, Sr. Holmes?" E Holmes disse: "Para melhorar a minha mente, senhor presidente".