Vive bem a espiritualidade, quem consegue conviver bem com a sexualidade, assim como Jesus, que soube conviver e manter amizade com mulheres, sabendo exprimir suas relações amistosas, carinho, dedicação e de amor com todas elas.
Nenhum ser humano, pode negar sua sexualidade, mas cabe a ele buscar vivê-la bem, pois um amadurecimento na sexualidade, evita um desregramento sexual, tornando algo impulsivo. A sexualidade permite o gozo, o prazer que pode ser exprimido na espiritualidade.
O percurso sexual, da infância à adolescência, passa pela fase oral (chupar), depois a zona anal até a fálica. O amadurecimento sexual correto, no caso do adolescente, faz com que ele não fique no estado orgiástico, mas que consiga conciliar o estado eros com o ágape. O amor, no seu estado pleno, vindo da sexualidade, permite a pessoa amar à outra sem desejos profundamente carnais, e quando há a necessidade de um contato íntimo, este tem grande valor, exprime a necessidade de fazer do outro, parte de si. Sartre diz que
“a carícia revela a carne do outro como carne para mim e para ele”.
Essa realidade deve ser vivida no matrimônio, já que é através do matrimônio, que na sexualidade pode reinar a paz e a harmonia.
A sexualidade está tão impregnada no modo de ser, que dela vai nascer certas características de personalidade, se bem vivida ou não. Nos casos em que é mal vivida, pode gerar patologias [pág. 1056]. (Para isso, Freud explica).
Desde o início do Gênesis, vemos a relação de Deus com o homem e a mulher. A princípio, pode-se pensar apenas na parte “machista” do texto, que de certa forma, apresenta Deus como varão, a mulher como aquela que tende a levar o homem para o mal e o homem como aquele que a repreende. Nesse sentido, convém entender que Deus diz que os dois, homem e mulher, devem manter uma relação interpessoal de serviço e dom.
Mesmo que o Antigo Testamento apresente um pudor em relação à sexualidade e a purificação, o Novo Testamento não estava preocupado, de forma que, a comunidade cristã primitiva não realiza atos de purificação. [pág. 1057]
<<Segundo o ensinamento de Jesus, não se provoca a impureza pelo contato com as coisas, sempre que exista pureza de coração (MT 5,8). A impureza é produzida unicamente pelo pecado. “Para os puros [pela fé] todas as coisas são puras” (Tt 1,15; Rm 14,20), até a prática sexual. O ato sexual não contamina, somente exige ser praticado moralmente, isto é, com “domínio de si” (eukrateia). Só é preciso purificar-se da impureza que nasce do pecado (1Jo 1,7; Hb 9,22) [...] que é obtido por meio do sangue de Cristo (1Jo 1,7) e graças a sua palavra (Jo 15,3).>>
“Somente a união das qualidades masculinas e femininas é que permite estabelecer a plena integridade do homem. O homem projeta e transforma o mundo, enquanto a mulher guarda e protege a vida. O homem é abstrato e a mulher concreta, o homem é a razão e a mulher sentimento, o homem se orienta para as coisas e a mulher para as pessoas”.
Isso sob um entendimento de integração dialética [pág. 1060]. Portanto, a mulher não deve ser relegada ao sexo, a maternidade e ao lar, como lembra Tomás de Aquino, erroneamente:
“Porque para qualquer outra atividade o homem recebe melhor serviço de outro homem do que recebe da mulher” (S. Th., I.q.2,a.1)
E sim, deve ser restituída a sua condição de pessoa livre que projeta o mundo. [pág. 1065]
É possível viver uma sexualidade casada com a espiritualidade de uma forma plena. Desde que a sexualidade não seja minimalizada ao aspecto genital, e sim a todo o corpo, não só individual, mas em conjunto, do casal. Numa relação sexual, é necessário saber que ali não há uma relação individual e sim uma relação “eu-outro”, de total entrega de si e acolhimento da presença do outro [pág. 1056]. A sexualidade entendida como o eros, também reflete o amor, pois o eros é senão o amor ainda amadurecendo. Nessa instância, ele se torna filia, até se tornar um pleno ágape. Convém lembrar que cada um deve viver a sexualidade à sua maneira.
FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.
FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.