sábado, 29 de outubro de 2011

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: SEXUALIDADE

Vive bem a espiritualidade, quem consegue conviver bem com a sexualidade, assim como Jesus, que soube conviver e manter amizade com mulheres, sabendo exprimir suas relações amistosas, carinho, dedicação e de amor com todas elas.
Nenhum ser humano, pode negar sua sexualidade, mas cabe a ele buscar vivê-la bem, pois um amadurecimento na sexualidade, evita um desregramento sexual, tornando algo impulsivo. A sexualidade permite o gozo, o prazer que pode ser exprimido na espiritualidade.
O percurso sexual, da infância à adolescência, passa pela fase oral (chupar), depois a zona anal até a fálica. O amadurecimento sexual correto, no caso do adolescente, faz com que ele não fique no estado orgiástico, mas que consiga conciliar o estado eros com o ágape. O amor, no seu estado pleno, vindo da sexualidade, permite a pessoa amar à outra sem desejos profundamente carnais, e quando há a necessidade de um contato íntimo, este tem grande valor, exprime a necessidade de fazer do outro, parte de si. Sartre diz que
 “a carícia revela a carne do outro como carne para mim e para ele”.
Essa realidade deve ser vivida no matrimônio, já que é através do matrimônio, que na sexualidade pode reinar a paz e a harmonia.
A sexualidade está tão impregnada no modo de ser, que dela vai nascer certas características de personalidade, se bem vivida ou não. Nos casos em que é mal vivida, pode gerar patologias [pág. 1056]. (Para isso, Freud explica).
Desde o início do Gênesis, vemos a relação de Deus com o homem e a mulher. A princípio, pode-se pensar apenas na parte “machista” do texto, que de certa forma, apresenta Deus como varão, a mulher como aquela que tende a levar o homem para o mal e o homem como aquele que a repreende. Nesse sentido, convém entender que Deus diz que os dois, homem e mulher, devem manter uma relação interpessoal de serviço e dom.
Mesmo que o Antigo Testamento apresente um pudor em relação à sexualidade e a purificação, o Novo Testamento não estava preocupado, de forma que, a comunidade cristã primitiva não realiza atos de purificação. [pág. 1057]
<<Segundo o ensinamento de Jesus, não se provoca a impureza pelo contato com as coisas, sempre que exista pureza de coração (MT 5,8). A impureza é produzida unicamente pelo pecado. “Para os puros [pela fé] todas as coisas são puras” (Tt 1,15; Rm 14,20), até a prática sexual. O ato sexual não contamina, somente exige ser praticado moralmente, isto é, com “domínio de si” (eukrateia). Só é preciso purificar-se da impureza que nasce do pecado (1Jo 1,7; Hb 9,22) [...] que é obtido por meio do sangue de Cristo (1Jo 1,7) e graças a sua palavra (Jo 15,3).>>

Somente a união das qualidades masculinas e femininas é que permite estabelecer a plena integridade do homem. O homem projeta e transforma o mundo, enquanto a mulher guarda e protege a vida. O homem é abstrato e a mulher concreta, o homem é a razão e a mulher sentimento, o homem se orienta para as coisas e a mulher para as pessoas”.
Isso sob um entendimento de integração dialética [pág. 1060]. Portanto, a mulher não deve ser relegada ao sexo, a maternidade e ao lar, como lembra Tomás de Aquino, erroneamente:
Porque para qualquer outra atividade o homem recebe melhor serviço de outro homem do que recebe da mulher” (S. Th., I.q.2,a.1)
E sim, deve ser restituída a sua condição de pessoa livre que projeta o mundo. [pág. 1065]
É possível viver uma sexualidade casada com a espiritualidade de uma forma plena. Desde que a sexualidade não seja minimalizada ao aspecto genital, e sim a todo o corpo, não só individual, mas em conjunto, do casal. Numa relação sexual, é necessário saber que ali não há uma relação individual e sim uma relação “eu-outro”, de total entrega de si e acolhimento da presença do outro [pág. 1056]. A sexualidade entendida como o eros, também reflete o amor, pois o eros é senão o amor ainda amadurecendo. Nessa instância, ele se torna filia, até se tornar um pleno ágape. Convém lembrar que cada um deve viver a sexualidade à sua maneira.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: VOCAÇÃO

Quando se toma o termo ‘vocação’, é adotado para seu significado apenas o que é religioso e sacerdotal, descartando as outras vocações (não religiosas), rebaixando-as somente como meras profissões. O que é um problema grave, pois esses grupos supracitados se apossaram da definição como algo próprio deles, deixando até mesmo os leigos, também engajados na vida pastoral, sem o uso da palavra, como resposta ao chamado de Deus, querendo dar a seu significado um caráter de Graça.
Mesmo a vocação ser tida como algo da pessoa expressar sua relação com Deus, ela não difere o que é sagrado ou profano, desde que seja uma resposta a um chamado. Consagração que é o termo correto, da adesão ao chamado de Deus.
Ainda, sob o conceito de vocação no âmbito religioso, deve-se entender que: se vocação é a resposta a um chamado, então quem faz o chamado é Deus. E há várias formas de interpretar e “ouvir” esse chamado. Ela nasce como uma pulsão interior, uma inquietação para algo, que é construído a partir da sua história no mundo e no ambiente em que vive, como a família e círculos sociais que freqüenta.
Não existe vocação melhor que outra; existem escolhas certas e erradas, que faz com que a vocação se torne apenas uma profissão. Quando há um verdadeiro discernimento, e uma escolha correta, isto é, saber ouvir ao chamado, é necessário ter um acompanhamento sempre, amadurecendo sempre a escolha feita, pois é comum para qualquer ser humano, as dúvidas e os momentos de crise. Um orientador vocacional é a pessoa mais indicada porque é preparado para isso, e uma relação de “um com o outro” ajuda a pensar. Nas escolhas existem renúncias, e não apenas opções, pois que escolhe uma vocação renunciou todas as possibilidades de tomar outra para si.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.