quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Heresias Cristológicas

Contexto e descrição
Ortodoxia
Docetismo:
Nega a humanidade de Cristo, colocando-a como apenas aparente, segundo o qual Jesus era apenas divino.

Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus;
Como lembra o Evangelho de João: “O Verbo se fez carne...”
É combatido por Irineu de Lião (Adversus Haereses)
A condenação foi reafirmada no Concílio Ecumênico de Calcedônia (451).
Ebionismo:
Jesus Cristo é Messias, mas não é Deus;
Jesus Cristo não nasceu de uma virgem, mas sim foi gerado por José com Maria por meio carnal;
Ter-se-ia tornado Filho de Deus pelo batismo;
Enfatiza a natureza humana de Cristo.
É combatido pelos Padres da Igreja: Inácio de Antioquia (Epístola aos Filadélfos, cap. IV); Irineu de Lião (Adversus Haereses); Eusébio de Cesaréia (História Eclesiástica); Tertualiano (Apêndice, Contra todas as heresias); Orígenes (Filocalia; Comentário sobre Mateus; Contra Celso); Jerônimo de Strídon (Carta para Agostinho); Agostinho de Hipona (Carta para Jerônimo); Epifânio (Panárion)
Adocionismo: É uma das ramificações do monarquismo (Sendo a outra o modalismo);
Jesus nasceu humano e foi adotado como Filho de Deus pelo batismo.
No concílio de Antioquia (séc. III), a Igreja afirma que Jesus é Filho de Deus por natureza e não por adoção;
Condenado nos concílios de Frankfurt (794, pelo Papa Adriano I) e Roma (799, pelo Papa Leão III)
Cristianismo-gnóstico:
Apresenta um cristianismo mais profundo e filosófico, principalmente em relação às Parábolas de Jesus. Deu origem a várias correntes heréticas.
Foi combatido através das correntes heréticas a qual deu origem.
Arianismo:
Jesus é filho de Deus, e não é Deus, por isso não é consubstancial a Ele (“Pai Eterno”);
É subordinado ao Pai;
É condenado pelos concílios de Nicéia I (325) e Constantinopla I (381);
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.”

Apolinarismo:
Jesus possuía um corpo humano e era dotado de uma mente divina.
Criticado pelos Padres da Igreja: Atanásio de Alexandria, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo;
Condenado no Concílio de Constantinopla (381).
Nestorianismo:
Afirmava a diferença entre a natureza humana e divina de Jesus, sendo vagamente unidas;
Afirmava que Maria é mãe de Cristo e não mãe de Deus.
Condenado no Concílio de Éfeso (431).
Cristo é uma substância e uma natureza;
A Virgem Maria é a mãe de Deus
Monofisismo:
Afirmava que Cristo tinha apenas uma natureza, onde a humanidade foi absorvida pela divindade.
Condenado no Concílio de Calcedônia (451).
Monotelismo:
Jesus Cristo, possui duas naturezas, mas havia só uma vontade, identificada pela humana com a divina.
Condenado no Concílio de Constantinopla III (681)
Eutiquianismo:
A natureza divina de Cristo consome sua natureza humana.
Essa visão é condenada no Concílio de Calcedônia (451).
Miafisismo:
Cristo tem as duas naturezas: humana e divina, mas que se unem formando apenas uma única Natureza de Cristo.
Essa visão é condenada no Concílio de Calcedônia (451).
Sabelianismo:
Jesus e Deus não são pessoas distintas, mas dois modos de Deus se mostrar.
É criticado pelos Padres da Igreja: Hipólito de Roma, Tertuliano, Dionísio de Roma.
Os Concílios Constantinopla I (381) e III (680) invalidam o batismo de Sabélio, junto com sua doutrina.
Judeu-cristianismo:
Somente passou a ser heresia nos conflitos internos entre os judaizantes e os pagãos convertidos; os primeiros consideravam as práticas judaicas autênticas para o “novo” judaísmo nascente (cristianismo).
Como heresia cristológica, é a crença monoteísta em Deus, não permitindo uma filiação do Pai.
Foi superado pelas primeiras comunidades, é possível perceber isso na formação da comunidade de Mateus e no primeiro Concílio, o de Jerusalém, descrito em Atos dos Apóstolos.
A crença herético-cristológica, foi "combatida" através dos Evangelhos, os quais, afirmam a filiação divina de Cristo (Tendo mais ênfase, o Evangelho de João).


A ortodoxia Cristológica e Trinitária é possível ser vista através dos seguintes Credos, que sintetizam o ato de fé, dando uma resposta aos grupos heréticos que surgiram.

Credo de Niceia e Constantinopla
Credo de Éfeso e Calcedônia
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigênito de Deus,
gerado do Pai antes de todos os séculos
Deus de Deus, Luz da luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus,
gerado, não feito,
da mesma substância do Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E, por nós, homens,
e para a nossa salvação,
desceu dos céus:
Se encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria,
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado
sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
E subiu aos céus,
onde está assentado à direita de Deus Pai.
Donde há de vir, em glória,
para julgar os vivos e os mortos;
e o Seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo,
Senhor e fonte de vida,
que procede do Pai (e do Filho);
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele falou pelos profetas.
Creio na Igreja
Uma, Santa, Católica e Apostólica.
Confesso um só batismo para remissão dos pecados.
Espero a ressurreição dos mortos;
E a vida do mundo vindouro.
Amém. 
Cremos em um só Deus, Pai Todo-Poderoso,
criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo,
O Filho de Deus,
unigênito do Pai,
da substância do Pai;
Deus de Deus,
Luz de Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
gerado, não criado,
consubstancial ao Pai;
por quem foram criadas todas as coisas
que estão no céu ou na terra.
O qual por nós homens e
para nossa salvação, desceu (do céu),
se encarnou e se fez homem.
Padeceu e ao terceiro dia
ressuscitou e subiu ao céu.
Ele virá novamente
para julgar os vivos e os mortos.
E (cremos) no Espírito Santo.
E quem quer que diga que houve um tempo
em que o Filho de Deus não existia,
ou que antes que fosse gerado ele não existia,
ou que ele foi criado daquilo que não existia,
ou que ele é de uma substância
ou essência diferente (do Pai),
ou que ele é uma criatura,
ou sujeito à mudança ou transformação,
todos os que falem assim, são anatemizados
pela Igreja Católica e Apostólica.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: ITINERÁRIO ESPIRITUAL

O itinerário do homem se baseia no tempo e na história, por isso, está sujeito às mudanças; às evoluções.
“Para Teilhard de Chardin, a evolução não se aplica apenas à origem do universo e da espécie humana, mas é <<uma condição geral a que devem dobrar-se e submeter-se, para serem possíveis e verdadeiras, todas as teorias, todas as hipóteses, todos os sistemas. Luz esclarecendo todos os fatos, curvatura a que devem amoldar-se todos os traços: eis o que é a evolução>>”.[1] [S. De Fiores, pág. 604]
Para o cristão, que é além de ser humano, um ser espiritual, esse caminho de evolução também deve ocorrer, principalmente, no que compete a essa espiritualidade. Seu itinerário será afetado e/ou influenciado pela cultura, porém, deve percorrê-lo aos passos de Cristo. Tendo Jesus Cristo como princípio base, fundamento e direção para salvação, não terá problemas na sua peregrinação. Portanto, através da conversão deve permitir Cristo em sua vida.
O itinerário espiritual mostra um caminho a seguir:
·        Ser como crianças e adultos reciprocamente, como Paulo adverte em 1Cor 14,20: Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças; mas quanto ao julgamento, sede adultos.”
“[...] o cristão não deve ficar parado na iniciação ou etapa infantil, caracterizada pela inexperiência, pela inconstância, pela incapacidade para aprofundar na sabedoria divina; ele é chamado a tornar-se adulto em Cristo, adquirindo a maturidade do discernimento, a impermeabilidade ao erro e a vida segundo a verdade e a caridade.” [S. De Fiores, pág. 608]
·        Deixar de ser imperfeito e ser perfeito, que é possível somente através do amor mútuo [S. De Fiores, pág. 608];
·        Através do amadurecimento na fé, deixar de ser um ignorante e passar a ser um mestre que é capaz de comunicar a revelação;
·        Por ser um ser carnal, o cristão está inserido na realidade humana, mas é chamado a ser espiritual, onde sua ação é movimentada pelo Espírito Santo. [S. De Fiores, pág. 609]
O cristão que vive sua espiritualidade da forma mais plena, tendo Cristo como causa e conseqüência de tudo que faz, tem em seus momentos de espiritualidade elementos que não fiquem apenas na contemplação, mas que é pensada e ativada através das palavras e ações de Cristo. Essa espiritualidade, a do cristão, articula um tripé: inserida na ação e oração. [cito o prof. Luciano Costa Santos, em sua fala no II Encontro Mineiro-Capixaba de Universitários Cristãos – Doutor em Filosofia pela UFRS].


[1] P. Teilhard de Chardin, El fenómeno humano, Taurus, Madri, 1967, 4º edição, 266.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

domingo, 6 de novembro de 2011

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: ORAÇÃO

O homem, não é apenas sapiens, ser que pensa, mas também orans, ser que ora, que reconhece sua natureza, a história da salvação e dá sua resposta através da oração. Com a oração, somos capazes de encontrar nossa identidade junto a Deus, conhecendo-o mais, pois quando estamos orando para Ele, reconhecemos Nele o motivo da nossa vocação. Os Padres da Igreja diziam que não é possível falar de Deus se não o experenciamos e conversamos com Ele.
Na oração, se reconhece a fé num Deus pessoal, vivo; na sua presença real e na confiança de que Ele nos falou e continua nos revelando. As orações feitas aos santos e a Virgem Maria se diferem por não serem de culto ou adoração, mas da manifestação da fé comunicada na comunhão dos santos. [B. Häring, pág. 843]
“O cristão que reza sabe o que é a vida eterna: conhecer a Deus como Pai do Senhor Jesus, conhecer Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mediador entre nós e o Pai, e crer no Espírito Santo que ora em nós.” (B. Häring, pág. 842)
Deus se apresenta como aquele que ama sua obra, por isso, se encarna através de Jesus, Deus-Filho e como um pai que ama seu filho, está sempre atento e à espera das orações dos seus filhos, toda humanidade. E ao escutar sua palavra, respondemos dizendo “Graças a Deus” ou “Glória a vós, Senhor”, que acolhemos sua palavra com gratidão. (B. Häring, pág. 846)
Assim como Jesus, chamamos a Deus de Pai, e como “filhinhos”, pedimos e agradecemos. Ele se deixa ser visto através de Jesus Cristo, passando de Deus criador onipotente para o Deus que ama sua criação. Jesus nos ensina a rezar e o Espírito Santo nos dá sabedoria e gosto pela oração correta (B. Häring, pág. 843). Logo a Santíssima Trindade é a melhor comunidade, de amor, de fonte e sentido para nossa oração.
A oração do cristão tem seu ápice na eucaristia. Nela adoramos o Pai pelo Cristo Total e através do Espírito, recebemos o dom capaz de nos transformar.
A eucaristia é o centro do culto da Igreja; ela sempre cria de novo a comunhão de fé, de esperança, de caridade e adoração em espírito e em verdade”. (B. Häring, pág. 845)



FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.

Comentário de alguns termos em Teologia Espiritual: ESPIRITUALIDADE CONTEMPORÂNEA

Para um início de estudo, faz-se necessário entender como alguns termos são concebidos pela atual formação da sociedade, onde espiritualidade e santidade são reduzidas no seu sentido. Espiritualidade é usada apenas como referência aos eremitas e aqueles que se retiram em oração e/ou meditação nas cavernas e no deserto; santidade como uma loucura na forma que a pessoa toma como opção de vida. Nos dois casos, nessa sociedade moderna, são coisas inúteis.
Surgiu uma rejeição à espiritualidade, já que consideram essa condição inconcebível no tempo em que vivem. Em contraste a isso, cresceu dentro dessa mesma sociedade, pessoas que procuram realizar seu lado espiritual, místico, tendo grande procura pelos grupos místicos orientais. Porém, nos últimos anos, cresceu o interesse pelo retorno à Tradição, à espiritualidade cristã, tendo destaque São João da Cruz.
O renovado interesse espiritual de nossa época brota de profundas exigências de autenticidade, de dimensão religiosa, de interioridade e de liberdade, que não satisfaz a sociedade consumista.” [S. de Fiores, pág.341]
Após a Revolução Industrial, o mundo tem passado por constantes mudanças, e evoluções no campo científico e tecnológico, porém, esse avanço esqueceu-se do fundamental, atender ao que o ser humano mais necessita; o que é próprio de si, tendo uma involução no que compete ao espiritual. Esse “vazio” espiritual força a estar buscando alternativas, nem sempre satisfatórias.
Em confronto a “maquinização”, tem-se buscado o esoterismo, às respostas mágicas para as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. Por isso, são comuns as consultas as cartomantes, quiromantes e outras formas de adivinhação e fórmulas mágicas para resolução de problemas.
No ocidente, como já citado acima, houve um interesse à cultura oriental, principalmente, no que se refere ao campo espiritual, originando, um novo “comércio”, onde se busca por opções em que aquele que participa dos encontros não precisa aderir ao grupo. “Pega” o que convém em cada um, originando uma “religião” individual.
Um fenômeno que tem sido comum, sobretudo onde há uma maioria jovem, é mesclar elementos de uma cultura e/ou grupo e/ou tribo específicos aos elementos cristãos. Formando novos grupos religiosos e até novas igrejas, sem qualquer ligação com as igrejas históricas. Esses grupos alternativos têm como característica, o pentecostalismo ou um rigorismo baseado na leitura fundamentalista das escrituras.
Essas formas de espiritualidades apresentadas mostram a insatisfação, ou mesmo a insegurança da sociedade “racional” dominada pela idéia de progresso e poder econômico, serem os objetivos fundamentais para se preocupar. Cabe ao cristianismo atender à sociedade nessa busca, pois somente uma espiritualidade cristã é capaz de satisfazer essas necessidades de época. Uma compreensão de espiritualidade deve “morrer” e ressuscitar renovada para atender essas necessidades, porém, uma renovação sem contradizer seu depósito da fé, senão perderia seu caráter de fé revelada tornando-se apenas histórica.

FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo. Dicionário de Espiritualidade (org), Paulus, 1993.