segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Análise do livro: As Igrejas dos Apóstolos


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 24/09/2010.



Nos primeiros escritos sobre Jesus, os apóstolos escreviam: “eu vi”. Depois da morte deles, os subapóstolos, escreveram: “Eu ouvi daqueles que viram”. E continuando o ciclo, chega-se ao momento em que apenas a fé torna as palavras fidedignas Daquele que um dia falou.
É concebido que os livros do Novo Testamento foram escritos pelos apóstolos, porém se reduzir os 12 em somente aqueles que realmente fizeram algo que mostra nas Escrituras, sobram apenas: Pedro, André, Tiago e João (são citados na companhia de Jesus, nos Evangelhos). No Novo Testamento André não é citado, Tiago morre no início do período apostólico, martirizado; João aparece como companheiro de Pedro e Pedro é mais citado, como se vê em Atos e nas cartas atribuídas a ele, endereçadas as comunidades cristãs.  Em seguida, surge Paulo, que ocupa o “lugar” de Judas como apóstolo, e seu nome, juntamente com Pedro é citado em Atos, e em algumas de suas cartas. Esses nomes, sumiram do cenário apostólico ainda no primeiro século da era cristã.
Os apóstolos fundaram comunidades, e com a morte deles, quem assumia era um bispo ou presbítero nomeado, porque assim como Jesus os nomearam, eles nomearam novos nomes para lhes sucederem. As cidades onde as comunidades foram criadas, se tornaram grandes centros cristãos, saíram da Galiléia e Jerusalém onde Jesus pregou para cidades como Corinto, Alexandria e Roma.
Paulo dedicou a maior parte de sua vida ao serviço missionário, pregando e convertendo até os confins do mundo. Depois, sua intenção passa a ser pastoral, ele preocupa com a orientação dos fiéis.
Como escreve as comunidades de Timóteo e Tito, a Igreja precisa ter uma organização como estrutura, pois essas comunidades estavam deficientes nesse aspecto. Essa organização que ia proteger a Igreja contra uma desestruturação. E assim Paulo nomeia os presbíteros-bispos e ensina como devem ser após a sua morte, quando não puder mais resolver as questões pastorais.
“Devem ser os mestres oficiais das comunidades, sustentando e defendendo a sólida doutrina que receberam de Paulo através de Tito e Timóteo, bem como rejeitando qualquer ensinamento novo ou diferente. Eles podem proteger a comunidade contra uma falsa doutrina, porque podem impor silêncio aos mestres errados”. Devem manter a “casa de Deus” organizada, onde os irmãos se preocupam um com o outro, administrando e dando bom exemplo.
Essas comunidades tiveram grande estabilidade institucional e foram fiéis em preservar a herança apostólica.
Nas comunidades dos Colossenses e Efésios, Paulo, além de tratar de assuntos pastorais como o comportamento ético dos cristãos, ele não está preocupado com a organização estrutural, passa a chamar as comunidades de igreja e fala que a Igreja é o Corpo de Cristo que deve ser amado. Trata cada carisma como uma parte do corpo, onde o corpo só estará bem com a comunhão de todos trabalhando juntos.
A idéia da Igreja como o Corpo de Cristo, onde Cristo é a cabeça, mostra o amor que Ele tem por ela. Por isso, a santidade é muito importante nesse sentido, pois Cristo morreu para santificar e purificar a Igreja e torna-la Gloriosa.
Cristo é representado como o Pantocrátor, “Aquele que tudo mantém”.
O Paulo de Lucas e Atos é missionário, preocupado em levar a mensagem de Cristo aos pagãos e gentios, até os confins da Terra. Preocupado com o cuidado do “rebanho”, se despede e nomeia bispos e presbíteros, pois seria a última vez que o veriam. E deixa como promessa, o Espírito Santo, que surge nos momentos em que as igrejas e seus líderes precisarem de ajuda.
Outro pilar da Igreja, Pedro, como é mostrado na sua primeira epístola, fala para os gentios convertidos ao cristianismo alguns anos antes. Nessa carta Pedro faz referência ao culto, e a estrutura da Igreja como a que foi apresentada por Paulo. Pedro também estava preocupado em afirmar os novos fiéis como “corpo de cristo”, numa igreja, “casa de Deus”, pois garantia aos cristãos-gentios que estavam vivendo como uma família, que haviam ganhado uma herança especial. Sua herança é afirmar Igreja como Povo de Deus.
Nas comunidades joaninas, a princípio temos uma comunidade formada por pessoas ligadas de forma afetiva com Jesus, ligada ao João do quarto Evangelho. Existe uma relação individual entre o cristão e Jesus.
O João das epístolas apresenta a comunidade guiada pelo Espírito Paráclito, aquele que estará com os discípulos quando Cristo não estiver mais no meio deles, habitando no coração de cada cristão.
Mateus, em seu Evangelho, é o único que usa a palavra Igreja, é o mais citado pelos Padres da Igreja, mais catequético e que mais atende as necessidades das comunidades cristãs. Na comunidade de Mateus, os cristãos judeus e gentios têm que aprender a conviverem juntos.
Não existiu uma comunidade, mesmo que fundada por um apóstolo, que tenha sido perfeita. Sempre tiveram seus problemas e dificuldades particulares, e sempre buscavam resolve-los sob inspiração do Espírito Santo.
A Igreja atual herdou de Paulo o sentido missionário e pastoral, enquanto de Pedro herdou o rigorismo e as idéias ortodoxas que continua presente em Roma.

Raymond Edward BROWN, As igrejas dos apóstolos

Introdução ao Método Teológico


Assim como muitos profissionais tem seus instrumentos de trabalho e pesquisa próprios, o teólogo a partir da fé, tem como base três conceitos: a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério, como resgata o Vaticano II com o documento Dei Verbum.
Só na fidelidade poderá prestar serviço verdadeiro. Mas fidelidade significa tanto guardar, com respeito, a herança, como prestar ouvido atento e apurado à chamada da hora presente, dado que tal chamada vem de Deus e exige por isso um serviço fiel. - Bernhard Häring.
A coragem de fidelidade não nos é natural. É baseada nas promessas de Cristo. A fidelidade consiste em abandonar o pensamento egoísta, e uma luta contra a sabedoria deste mundo. A fidelidade no campo da teologia, baseia-se em “Deixar-se guiar pelo Espírito”. (Rm 8,14 e Gl 5,18)
Desde Cristo, e além do que ele ensinou, que é revelado nos Evangelhos, devemos buscar sempre na história o que os Santos Padres deixaram como ensinamento, o que eles acreditavam e o que condenavam. Eles tinham seus métodos de pesquisa diferentes, mas a fidelidade à Sagrada Escritura era inerente.
Para uma compreensão melhor dos métodos, ele se definem em três atos teológicos: a escuta (auditus fidei) à palavra de Deus presente na Sagrada Escritura; o intellectus fidei que é a revelação da mensagem (hermenêutica), e está ligada diretamente ao que diz o magistério. E o applicatio fidei, que é o dogma, a regra.
Nossas pesquisas não podem ser tomadas como individuais, e seus resultados serem apresentados de forma egoísta, onde poucos tenham acesso, senão seremos como os gnósticos que apresentam uma verdade de salvação individual, partindo apenas do conhecimento e não à luz do Evangelho. Nosso pensamento teológico tem que estar fundamentado pela Sagrada Escritura. É notório que somente nela, encontramos a mensagem salvífica de Jesus para a humanidade.
O que determina a canonicidade, a regra pela qual, os livros da Bíblia são considerados inspirados, é a forma com a qual eles foram aceitos pela comunidade, pois existem diversos livros que não condiziam com a realidade de fé das comunidades, os apócrifos. A fé que determina a autenticidade dos livros, e faz acreditar que o Espírito Santo inspirou todos os livros bíblicos.
Além de ler a Bíblia, confiando na sua canonicidade e veracidade, o teólogo também interpreta os livros, resgatando e transmitindo á comunidade o que o escritor sagrado quis transmitir no texto. Por isso, o teólogo precisa ter um profundo estudo exegético e hermenêutico para compreender o que está escrito.
Além da Sagrada Escritura, a fidelidade à Tradição. Abandonando a idéia, talvez preconceituosa de um pensamento do passado ser ultrapassado, sendo que “as doutrinas dos grandes tem um valor imorredouro”. (Bernhard Häring) – O que confere a vitalidade à Tradição, é a fidelidade frente ao Espírito que Cristo nos enviou.
Dentro da Tradição, há elementos que também exprimem a fé e a fidelidade do teólogo. Os símbolos batismais; o Credo que representa o dogma; a herança de ensinamentos e das práticas dos pastores; as cartas pastorais e as verdades de fé apresentadas pelos primeiros autores cristãos.
Essas verdades de fé, apresentadas como regras (regula fidei), são ensinamentos principais apresentados pelos autores. Sinteticamente a regra é crer em Deus, em Jesus, e no Espírito Santo, e crer no mistério pascal de Cristo. Quando o pensamento não está voltado para os elementos da tradição, e não busca a verdade apresentada pelo Magistério, cai em heresia. Surgem pontos de vista diferentes que “divide” ao invés de unir os cristãos.
Também, é notório citar os Padres, que contribuíram pra tradição, eles que revelam a história; são expoentes da revelação de Deus; modelos de um ensinamento coerente; são pensadores que sintetizaram o pensamento teológico.
A Liturgia, que é a ação de Deus, servindo seu povo, e a ação do povo, servindo e glorificando a Deus. É uma ação simbólica, o ritual. E os Santos, que apresentam em suas vidas, como é viver a Palavra de Deus.
Como a Teologia é uma vocação ligada o serviço eclesial, logo seu método teológico esta ligado á Igreja. Por isso, o que o teólogo ensina, tem que estar coerente com o que diz o Magistério da Igreja. Apesar de serem diferentes, Teologia e Magistério, eles tem que fundamentar seu pensamento nas Escrituras.
Em suma, o método teológico, nos ensina que aprender e ensinar teologia, é algo desafiador, pois temos que estar coesos com as Verdades apresentadas pela Igreja, e nosso pensamento estar iluminado pela fé.

Análise do texto: Martírio e vida Monacal


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina História do Cristianismo (Antiga) - 03/11/2010.

É concebido por judeus e cristãos, uma recompensa após a morte aqueles que permanecem fiéis a Deus em todos os momentos. O martírio era compreendido as testemunhas oculares de Cristo, que logo passou a determinar os perseguidos pelos imperadores romanos no período pós-apostólico, devido a isso, eram colocados como testemunhas da fé cristã. Além dos mártires que perdem a vida, há o confessor, que mesmo não morrendo assume sua fé diante dos tormentos.
O martírio, como “batismo de sangue” é a continuação do batismo pela água, onde os cristãos afirmavam seu testemunho. Quando morre, o mártir tem total segurança de poder estar junto ao Pai, onde não precisaria esperar a ressurreição final, pois já estaria agraciado a permanecer no Paraíso.
Com o fim das perseguições e em meio a um novo contexto de Igreja, surgem os eremitas, os padres do deserto. Nascem para dar sentido a vivência pelo Evangelho, em especial vivendo na pobreza.
Os monges imitam Cristo naquilo que fazem. São obedientes, como Jesus o foi ao Pai; são simples, não preocupam com o que comem, com o que vestem ou onde dormem; sacrificam-se a Deus e não se apegam as coisas do mundo. Os monges resgatam os ideais de uma Igreja cristã primitiva, onde havia o bem comum, daí a origem da palavra monge; viviam em unidade. Ele partilhava os seus bens com a comunidade, fazia a caridade, exercendo um amor fraterno com humildade e misericórdia.
Na vida monástica, o monge faz renúncia de si mesmo por Cristo, assim como os mártires faziam dando sua vida por Ele. São “mártires” por possuírem a mesma pureza, e como lembra São Jerônimo, era um martírio rotineiro. Eles evitam aquilo que os possam afastar de Cristo; e quando se retiravam no deserto, combatiam o demônio e suas tentações.
No deserto, permanece apenas o silêncio e a paz, da alma e do corpo. Esse silêncio busca através de uma vida solitária, mesmo não tendo aversão as outras pessoas, apenas evita ser corrompido por elas, como cita Salomão.
Os monges têm como exemplo de vida no deserto, três pessoas: Abraão, que sai de sua terra sem saber para onde, ou levando ao sacrifício seu filho único, apenas por confiar totalmente em Deus; Moisés, que guia seu povo pelo deserto e de mãos elevadas clama a Deus, assim o monge também eleva suas mãos em oração a Ele; E Elias, que se retira no deserto pra se encontrar com Deus, faz jejum, que o lembra dos mandamentos do Espírito. Logo fica Elias como o primeiro monge, ou Antão muito tempo depois.
Devido a vida que tomam para si, os monges são comparados a anjos, não estando presos as realidades terrenas, negando os prazeres e os vícios, vivendo de jejuns, vigílias, abstinências, trabalhos manuais, oração constante e a esmola aos pobres. Imitam Cristo na vida e na morte, sendo o deserto mais árduo que uma vida sob o domínio do Império Romano.
Disso tudo, ele deve ter cuidado com algumas coisas que esta sujeito a cometer: a soberba, a presunção e a arrogância. Deixando isso, fica a dedicação a Deus, apenas servindo-O. E deixam como herança para sua Igreja um amor e uma fidelidade a Cristo que deve ser seguido.

CADERNOS PATRÍSTICOS, VOLUME II, Nº4, 2007
Martírio e vida monacal - Ulysses Roberto Lio Trópia

Análise do texto: O testemunho da Igreja antiga – Uma economia sacramental


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina História do Cristianismo (Antiga) - 24/09/2010.

É notório nos primeiros 11 séculos da história da Igreja, encontrar dificuldades relacionadas aos sacramentos: como nomeá-los, celebrá-los, o que é, e o que não é sacramento e quais listá-los como um cânon.
Para compreenderem o que era sacramento, os Padres da Igreja inspiraram nas Escrituras e viram na Tradição as palavras e nos gestos da liturgia.
Desde as primeiras comunidades, como se vê em Atos dos Apóstolos, já se celebrava a liturgia, mesmo que suas orações fossem de raiz judaica, logo passaram a compor as próprias orações e hinos. Também em Atos, nascem os primeiros sacramentos como rito das comunidades: o batismo e a fração do pão, mesmo que ainda não dessem o valor de sacramento a eles. Pois, os sacramentos não foram inventados, eles nasceram da herança que Cristo havia deixado aos apóstolos, como a Eucaristia, e da herança dos primeiros apóstolos, pois diziam que receberam o batismo de Jesus.
O rito sacramental, não é rito por si só, ele se completa a partir da vivência eclesial em busca do Reino de Deus. O batismo sem a palavra é apenas água, como afirma Santo Agostinho, e assim rito + palavra se tornam manifestação de Deus. Antes de serem rito, é um ato que Deus concede á Igreja, e como afirma novamente Agostinho, se um dos apóstolos batiza, é Cristo quem batiza.
Os sacramentos são gestos de fé, onde os cristãos afirmam em que acreditam e confirmam com o “Amém”. Não o fazem sozinho, é sempre em presença do bispo e do presbítero junto á comunidade, e frente á ela, professam sua fé.
 No princípio, tudo era sacramento, desde a integração de um novo fiel até um dos outros que hoje concebemos, e por serem muitos, não é possível listá-los todos. E antes dessas ações receberem um nome em comum, já existiam. Os primeiros termos foram: mystérion (grego), misterium (latim) e raza (siríaco), pois Cristo é o Mistério revelador.
Esse sentido de mistério, não é o mesmo concebido como algo inexplicável e oculto, por isso, temia-se que o confundisse com as religiões de mistérios. Daí, surgiu o termo sacramentum, ligado ao gesto sagrado. Os ritos sagrados, também só foram nomeados como liturgia, muito tempo depois, de serem compreendidos, no século XVI. Uma concepção sobre o nome que durou por muito tempo, foi o sacramentum derivado de secretum, ou seja, o sacramento é segredo, a ação divina está oculta. Esse pensamento durou desde o século VI até o século XI.
A necessidade dos sacramentos fora questionada no princípio do cristianismo, porém, “o rito tem uma justificação na experiência cristã não apenas porque Jesus o decidiu, não apenas porque a criação foi assumida pelo rito eucarístico, mas porque, no seio da fé, a condição humana requer gestos sensíveis e rituais”.
Além da necessidade de se ter ritos no cristianismo, outras questões foram levantadas e discutidas por muito tempo, sendo que algumas até hoje são comentadas e questionadas. A necessidade de batizar as criancinhas, foi um assunto que era decidido e outrora, voltava a ser repensado, porém Agostinho, sabiamente diz: “a criança é apresentada não tanto por aqueles que a trazem nos braços – ainda que seja por eles também, quando são verdadeiros crentes – quanto por toda a assembléia dos santos e dos fiéis. É a Mãe Igreja, como totalidade, que opera, aquela que está nos santos. Como totalidade, ela é constituída por todos. Como totalidade, ela dá a luz a cada um”. Isso lembra o atual batismo onde as crianças são batizadas, onde sua fé é afirmada pelos pais e sua formação cristã é comprometida por toda a comunidade.
Outro assunto que entrou em questão, foi se pode, ou não rebatizar cristãos batizados em uma igreja separada. Primeiro, afirmaram que havia ter outro batismo, em seguida Estevão afirmou que apenas a imposição de mãos para penitência era suficiente. Apenas nos dois concílios seguintes, Arles e Nicéia, e em seguida Laodicéia e Constantinopla, que afirmaram o batismo em nome da Trindade.
O batismo é o único sacramento que aparece na profissão de fé cristã, pois ele é o sacramento que inicia o fiel na vida cristã. Ele é tão importante quanto os outros sacramentos.
O significado da Eucaristia também foi questionado e levantado as opções: um pensamento dizia que o corpo eucarístico é o mesmo do Jesus histórico, e outro dizia que o corpo eucarístico era apenas simbolismo. Somente em 1059, em Latrão, que foi anunciado que “O pão e o vinho consagrados não apenas um sacramento, mas verdadeiramente também o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Com essas dificuldades de entendimento dos sacramentos, foi difícil instituir a primeira lista. Muitos Padres da Igreja, tanto no oriente quanto no ocidente, formularam a sua lista de ritos. Por isso, só no século XII que se tem o primeiro “cânon” sacramental”.
A Teologia sacramental está baseada na Bíblia e na prática pastoral. Quem celebra os sacramentos acolhe as Escrituras e a Tradição. Por isso, Igreja do Oriente e do Ocidente, apesar de abrangerem de forma diferente alguns ritos, tem mais em comum que divergências.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Resenha do livro: “Ovelha ou Protagonista? – A Igreja e a nova autonomia do laicato no século 21”


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Pastoral - 18/11/2010.



Assim como a população passou do campo para a cidade, e deixou a vida no campo onde havia o cuidado do rebanho de ovelhas e do gado, também a sociedade urbana deixou de ser ovelha da Igreja, como pastora. Com a perda da identidade do campo, há também perda da identidade religiosa. E não percebendo passaram a seguir outra “pastora”, e que mesmo não preocupada com o bem-estar dos seus “fiéis” apenas com o numero de acessos, ganha todo dia novos membros, a Internet e os outros meios de vídeo comunicação.
Mesmo que possa ser uma grande aliada à Igreja, a Internet e os outros meios são usados como fonte de exploração de um acesso de conteúdo pornográfico, “navegando” no mundo do “prazer.com”, e na maior parte dos casos, priva seus internautas ao convívio externo com outras pessoas e os reduz apenas ao convívio em redes sociais, que não garante 100% a originalidade das informações do “novo amigo” virtual.
Também presente nessa realidade moderna, é notório o grande aumento de diversos problemas, como violência, pobreza, descaso com o outro e até mesmo o medo do mundo. Diante disso, Blank afirma que é nesses momentos que o homem deve buscar Deus e não se afastar Dele[1], porém completa que é um Deus que perdeu sua identidade no meio da sociedade ou mesmo um Deus que as pessoas querem se afastar.
Essas pessoas, da sociedade pós-moderna, acreditam que devido ao aumento intelectual e cultural, deve deixar de crer em um Deus invisível, principalmente a instituição que prega esse Deus. Em contraste a isso, procuram curas milagrosas em outros meios, participam de cultos “pagãos” e surge o questionamento: Então porque o abandono da Igreja?
Porque a Igreja é uma instituição de responsabilidade, onde seus fiéis participam e vivem em comunidade, enquanto outros “apriscos” não têm isso como fundamento. Vivem em um mundo do gasto desenfreado, que os torna presos aos seus empregos e ao dinheiro, e quando encontram o único lugar onde têm liberdade, a Igreja, a negam, pois devido a sua liberdade é a única coisa que conseguem negar na realidade em que estão presos. Blank mostra que a sociedade que vive em metrópoles é marcada por contradições[2], uns rejeitam a religião, outros a procuram como forma de estarem seguros, rejeitam apenas a instituição, como o mecanismo de defesa pra demonstrarem sua liberdade, como citado anteriormente.
Diante dessa nova realidade, aqueles que permaneceram fiéis a Igreja, os leigos, têm que mudar seu papel, deixarem de ser apenas ovelhas guiadas e tornarem-se protagonistas onde vivem, sendo os principais responsáveis pelas mudanças sociais e fazendo com que seus pastores se tornem melhores, como é explícito em documentos do Sínodo episcopal Santo Domingo, em documentos do Concílio Vaticano II e no Direito Canônico.
É notório, que todas as idéias são boas enquanto escritas e que se tornam muitas vezes difíceis de ser aplicadas na prática. Não é fácil para o leigo deixar de ser apenas um membro e passar a ser o principal sujeito da pastoral, e principalmente para o corpo eclesial abandonar seu poder.[3]
Discordo do Blank, quando coloca que foram os pensadores da Renascença e os trabalhadores da Revolução Industrial que se afastaram da Igreja, infelizmente foi a Igreja que os abandonou quando precisaram. Se tivesse acolhido os cientistas, não teria necessidade de pedir desculpas por erros cometidos na época, um século depois. E no caso dos operários, se tivesse seguido o que disse o Papa Leão XIII, na Rerum novarum, e os acolhido na atual situação deles. Por isso, não foi uma simples mudança de mentalidade.
E o mesmo está acontecendo no século 21, com a emigração silenciosa, e tende a piorar se a Igreja não parar para ouvir seus fiéis e discutir sobre os assuntos considerados polêmicos. Justificar o motivo da decisão em tais assuntos e não apenas repreender por estar indo contra o Magistério, e com isso fazer com que o fiel leigo dê valor ao Magistério da sua Igreja.
Dentre as problemáticas apresentadas por Blank, três paradigmas devem ser quebrados: o primeiro é o de “ovelha obediente” e passar a ser agente transformador na Igreja e no mundo; o segundo junto com o terceiro, a Igreja tem que deixar de ser hierarquizada, colocando o papa no topo e os fiéis na base; acabar com a imagem do leigo como ignorante no assunto, para se tornar uma verdadeira Igreja Viva, Povo de Deus em comunhão, onde há a participação de todos, movidos pelo mesmo Espírito Santo.
Assim também, três são as exigências para o leigo: primeiro, deve resgatar sua identidade como cristão e acabar com as acepções o qual está submetido, como a ovelha, que é sempre obediente e aceita tudo o que lhe é designado, não está preparada para mudanças; os consumidores, que pensam que a Igreja é uma prestadora de serviços, que deve estar submetida a eles; os emancipados, que se consideram os mais aptos para os serviços, gostam de questionar tudo relacionado à Igreja, e se consideram os certos naquilo que afirmam, se contrariados fogem; os resignados, que se afastaram da Igreja por estarem desanimados pois ela não atendeu a expectativa que esperavam e os revoltados pela condição que se encontravam, por não terem voz nem vez na Igreja. A segunda exigência, perceber os sinais dos tempos, e saber fazer uso do que a pós-modernidade oferece, tornando aliada na evangelização; E terceira, fazer com que o ideal de leigo na teoria se faça na prática.
Para ser um verdadeiro protagonista, o leigo deve exercer o seu laicato conforme a sua virtude, trabalhando junto para formar uma Igreja unida, onde ninguém é melhor que ninguém, nem leigo nem clérigo. E juntos movidos pelo Espírito Santo. Para esse ato se concretizar, parte da Igreja se abrir para uma mudança, e mesmo que demore, ela é capaz de reconhecer isso.


[1] P. 07
[2] P. 26
[3] P. 38


BLANK, RENOLD J.: OVELHA OU PROTAGONISTA?: A IGREJA E A NOVA AUTONOMIA do laicato no século 21


Resenha do livro: O Pecado – do descrédito ao aprofundamento (Frei Antônio Moser)


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral.

O pecado é um assunto que tem vários questionamentos em torno de si, sejam teológicos ou mesmo filosóficos. A partir disso, Moser mostra com excelência a situação do pecado, como ele é concebido, interpretado, o seu panorama e o seu descrédito ao longo da história. Procura respostas desse descrédito em Freud e Marx; aprofunda seu tema fazendo a relação do pecado com o mal e o pecado original. Logo procura no Antigo Testamento, com os profetas e com Jesus no Novo Testamento posições sobre os pecadores. Também busca na Patrologia, com os Padres da Igreja uma definição com relação ao tema. Aponta como essas noções repercutem na atividade pastoral e como estão associadas as nossas compreensões de Deus. Por fim, como o Magistério encara sobre os conceitos que devem ser aceitos e seguidos pelos fiéis.
O pecado não é visto mais como uma mancha na pessoa, ou um erro cometido com consciência e liberdade contra Deus, ele é concebido como preceito de quem não segue as normas da religião que segue. Então no Cristianismo, principalmente entre católicos, o pecado existe enquanto existir um padre que aponte seu erro e afirme que é pecado? Seu descrédito é devido a uma forma de encarar a moral sem precisar citar o pecado, a perda da consciência de culpa, a evasão no que se refere ao sacramento da penitência, essas causas são devido a modernidade, onde há uma dessacralização, o pensamento se torna “adulto” e a idéia de pecado diretamente associada ao âmbito religioso se torna infantil.
Alguns pensadores deram sua interpretação a respeito do pecado, Freud, por exemplo, afirma que isso é apenas uma manifestação patológica, e como assegura que a consciência está ligada a fatores psíquicos como os impulsos (principalmente sexuais), que agem sob o consciente e as ações que controlam nossos impulsos, reduz o pecado a fatores internos que não podemos controlar, como ele não aceita nenhuma forma de religiosidade, acha que o pensamento em relação ao pecado deve ser erradicado. Para Marx, que também via o pecado ligado a moral cristã, e via na religião um meio de poder e manipulação, condenava todas as práticas e não via o sentido do pecado, alegando que era apenas uma forma de alienação.
Para compreender melhor o pecado, é fundamental entender o mistério do mal. Mesmo assim, em relação ao pecado, o mal é mais extenso, pois o pecado é a concretização de uma possibilidade que já existia. E o pecado é a expressão objetiva do declive moral do mal.
Se o pecado é fruto do mal, como compreender a origem do mal se Deus criou tudo? Ou quando lemos Isaías: “Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou o Senhor, que faço todas essas coisas.” (Is 45,5-7) e em seguida: “De fato, fui eu quem criou o ferreiro, que sopra sobre o fogo de brasas e dele tira as armas trabalhadas pela sua arte; também fui eu quem criou os demolidores para destruir.” (Is 54,16). Teria Deus criado o Mal?
A teologia clássica, defendendo Deus, pra livrar desse peso da criação do mal, apresenta alguns pontos: primeiro afirmando que só o bem existe, pois o mal não tem densidade; outro ponto é afirmar que alguns males vêm para o bem, e como exemplo disso, a frase de Santo Agostinho, “Ó feliz culpa! (de Adão e Eva) Que nos trouxe o benefício de um tão grande Salvador!”. E outro pensamento é que Deus não quer o mal, apenas o permite[1]. A partir de uma concepção mais recente, Teilhard de Chardin propõe uma explicação para o problema do mal como uma condição de possibilidade para o aperfeiçoamento da criação. Não somos capazes de ter tudo e cada uma das nossas escolhas implica a renúncia de muitas outras, o pecado está em não escolhermos a melhor atitude que se torna pleno segundo a vontade de Deus. Para entender os trechos bíblicos que dão autoria a Deus a criação do mal, é necessário entender que no Antigo Testamento, o povo de Israel considerava Deus o autor de tudo na vida, até mesmo o mal. Porém o mal não vem Dele e sim do homem.
Outro elemento que é importante para a compreensão do pecado é o pecado original. Este é entendido com uma fenda na natureza humana que todo homem adquire ao nascer, como compreende Santo Agostinho. O pecado originário é o que diz respeito à entrada do pecado no mundo, o que é transmitido é o estado de decadência no qual entra o homem com o primeiro pecado, este independe da consciência do sujeito. Para Lutero o pecado original é a tendência para o mal que experimentamos mesmo após o batismo. Essa condição é necessária para que Deus possa perdoar o homem. O Concílio de Trento vai dizer que este pecado é perdoado com o batismo em Cristo, ou seja, a fenda aberta pelo primeiro Adão é fechada pelo segundo, que é Cristo.
Para entender a culpa que carregamos em relação a um personagem bíblico mítico, e para não cair na heresia do pelagianismo, e afirmar que a culpa de Adão morreu com ele. Entendo que o pecado original é a ruptura entre o homem e Deus que ocorre quando o homem se afasta do bem de Deus, e pelo batismo volta a ter a comunhão com Ele. Porém, Moser afirma que o pecado original é o pecado do mundo, são males como roubo, corrupção, promiscuidade sexual[2], que vem ganhando força pela história, logo é o peso do erro dos nossos antepassados. É um pecado que foge do sentido individual e passa a pertencer a sociedade inteira, onde cresce a capacidade de não amar, fortalecendo os pecados individuais.
Moser através do exemplo que Cristo é o Sol, a Igreja sua lua que reflete sua luz e as estrelas que também emitem luz, são as outras culturas, encontramos nelas elementos que se aproximam com o pensamento cristão. Por exemplo, no hinduísmo, há o rito de purificação pela água, como o batismo; no budismo, o pecado está relacionado à responsabilidade da pessoa; os mandamentos da Babilônia são os mesmos recebidos por Moisés no Sinai, com a diferença deste ser politeísta. Porém, serão os profetas que mais tratarão da questão do pecado, devido à infidelidade a Aliança estabelecida entre Deus e o Povo. Apesar de não ter um conceito definido no Antigo Testamento, os profetas denunciam os pecados individuais, aqueles que estão voltados pra questões humanas e que afastam dos preceitos de Deus.
No Novo Testamento o posicionamento de Jesus diante do pecador é admirável. Ele não condena, mas quer que o pecador tenha a vida, se restabeleça em sua relação com Deus. Para Jesus o pecado esta em não aceitar o Reino de Deus que Ele vem anunciar; Ele vem para os pecadores e não para os justos, propondo uma conversão. Paulo, que teve sua experiência de conversão através de Cristo, nos diz que a origem do pecado está na ganância que é o querer mais do que se necessita; apresenta o pecado como erro voluntário, uma desobediência a Deus, além disso, ele lista os mais diversos tipos de pecados: Gl 5,13-25; 1Cor 5,1.6,9s.[3]
Para melhor finalizar o pensamento de Paulo, nada a mais que as palavras: Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço [...]. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero” (Rm. 7, 15-23).
Na Patrística, a princípio, não houve uma necessidade de criarem tratados a respeito do pecado, apesar dele não estar ausente, com o tempo foram surgindo os primeiros conceitos, sendo que nessa época estabeleceu a idéia de pecado uma infração contra a instituição, e baseado na lista de sete pecados. Os Padres da Igreja, diante do pecado, como obstáculo da comunidade, vão propor formas de combatê-lo.
Como herança, ou até mesmo mau costume, da Idade Média, perduraram os manuais casuísticos de pecado, onde estão listados os pecados e a penitência referente a ele. Nisso o pecado passaria a ser o descumprimento de uma lei, e teria sua punição, que já estava prescrita em um manual.
Com as ciências humanas e sociais, o pecado vai surgir como tudo que destrói e aliena. O pecado vai sair do ato isolado, para um contexto social mais amplo. Também o pecado não é uma opção fundamental negativa, caracterizando um pecado mortal.
Na contemporaneidade, a concepção do pecado passa a ter um enfoque mais socioestrutural, principalmente na América Latina, e como lembra Puebla (1979), que não foi citado por Moser, mas seria essencial ter lembrado, é que a Igreja vive uma realidade de pecado social, e a gravidade do fato está em países que se dizem católicos, e por excelência têm a capacidade de mudar, mas indiferente a isso, são omissos.


[1] P.35
[2] P. 67
[3] P. 95

Pecado estrutural


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral (Religiosa) - 26/11/2010.

O “pecado estrutural” não parte da definição de pecado como uma decisão livre e pessoal, ele é entendido como o que não condiz com a vontade de Deus. O homem não é um ser que tem que escolher em o bem e o mal, o mal já está contaminado nele. Quando age de forma egoísta, atingindo a comunidade, torna-se um pecado estrutural.
Puebla diz: “Nesta angústia e dor, a Igreja discerne uma situação de pecado social. E completa que é mais triste a situação de pecado num continente que se diz cristão, principalmente católico, onde há possibilidades de mudança por parte dos cristãos, e ao invés de uma mudança, os fiéis ficam num estado de omissão.
“Como encarar o mal impregnado no homem como ser estrutural, se isso ocorre em uma realidade cristã?” É um questionamento que tiro disso.
Os humanos são seres estranhos, pois não gostam de assumir uma culpa. Se tudo vai bem, é um mérito. Se sentem ameaçados, rogam aos anjos. E se dá errado, por mais insignificante que seja a culpa é dos demônios. O pecado estrutural, não é somente o pecado coletivo, é também individual. Porém, o carregamos como uma responsabilidade social, já que não acomete apenas um indivíduo, pois todos os atos interferem direta ou indiretamente, de forma boa ou ruim, a outro.
Como exemplos de pecado estrutural impregnados na sociedade, é evidente o adultério; o consumismo causado pela indústria da moda; certas ideologias que induzem a violência e a indiferença; a manipulação da informação como forma de controle de outros; um consumismo acentuado; as leis, quando elas reforçam a injustiça e a iniqüidade; e as falsas necessidades.
O pecado é uma mancha na historicidade humana, ele sobrevive numa realidade alienante, por isso, creio que em muitos ambientes cristãos, há a presença do pecado. Ele está impregnado no íntimo do ser, daí o ser humano, principalmente cristão deve buscar afastar-se dele. Pois, os humanos, mesmo quando demonstram que não há mais salvação, surpreendem e mostram a capacidade de serem melhores.

Primeiros discursos cristãos e tradição da fé


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 21/09/2010.

Os primeiros discursos cristãos
Nas origens da literatura cristã, são encontradas três interpretações principais: o judeu-cristianismo, o gnosticismo e os Padres apostólicos.
O judeu-cristianismo é marcado pelas comunidades judaicas que mesmo no judaísmo, asseguravam a pregação dos apóstolos, e a inculturação do cristianismo de origem pagã. Eram judeu-cristãos, pessoas vindas do judaísmo que permaneciam com o pensamento judaico; E os que continuavam no judaísmo, mas reconheciam em Cristo, um profeta.
Nessa literatura, encontram-se muitos escritos, em sua maioria, apócrifos, e alguns relacionados aos padres apostólicos. E como elementos comuns de seus textos: o gênero apocalíptico; uma interpretação própria do Antigo Testamento; atribuíam certos textos proféticos como predição á Cristo; É comum a referência aos anjos e sua milícia celeste, onde os anjos representem o Bem e os anjos decaídos, agora chamados de demônios, representam o Mal. Fazem muitas analogias entre um símbolo e outro, para que um dê sentido ao outro, para mostrar que o Novo testamento está confirmando o que está escrito no Antigo, e seu conteúdo já era previsto.
Também é conhecido na literatura do judeu-cristianismo, o pensamento “heterodoxo”. Nele, são questionadas questões como a divindade de Cristo; a existência da Trindade em conflito com um pensamento monoteísta. Apesar de serem questões delicadas, esses grupos deram origem a grupos heréticos e gnósticos.
Por causa da ascensão do cristianismo em meio ao paganismo, o judeu-cristianismo se extinguiu. Porém, ele guarda muitos ensinamentos para a fé cristã.
O gnosticismo define-se em buscar a salvação pelo conhecimento.  Para os gnósticos “o conhecimento da Lei depende de um modo de interpretação cuja chave é reservada aos iniciados”. Nesse contexto, a fé cristã se apresenta como a “verdadeira gnose”.
O cristianismo gnóstico, também é esotérico, pois designa um conhecimento especial que é reservado, restrito a um grupo de pessoas que se mostraram merecedoras de recebê-lo; que passaram por um processo iniciático. Por isso, se julgam como os “verdadeiros cristãos” e serão salvos.
Dão grande importância a mitologia, numerologia, temas apocalípticos e precursora de pensamentos como o maniqueísmo; Cristo é somente Deus e não homem, só aparenta ser, por isso não sofreu na cruz.
Apesar de serem “fechados”, e muitas vezes serem considerados hereges. Pode-se afirmar que os gnósticos foram os primeiros teólogos, pois eles que buscaram a gnose (o conhecimento), e seus pensamentos e tratados não podem ser descartados, sendo que muitos são profundamente cristãos.
Os Padres apostólicos, referem-se aos discursos relacionados aqueles que pertenciam a geração posterior a dos apóstolos, sendo que muitos tiveram contatos com eles. Eles se relacionam com o judeu-cristianismo, já que alguns foram judeu-cristãos e também tiveram relação com o gnosticismo, por confrontá-la.
Seus textos, geralmente são cartas com finalidade pastoral e catequética, onde o autor dirige a sua comunidade. A intenção é manter a unidade e a organização das comunidades, elevar o ânimo dos fiéis num período de perseguição e martírio e incentivam a conversão.
Por causa das críticas dos pagãos sobre os costumes cristãos, e como inventavam motivos para criticá-los, surgem textos, com necessidade de explicação, como resposta as idéias absurdas ditas pelos pagãos. Nisso surgiu “disputas literárias”, onde um autor criticava em um ponto, e o outro “contra-atacava” respondendo em um outro texto. Daí, o gnosticismo, principalmente, foi combatido como os primeiros hereges. Sendo Irineu de Lião o principal “combatente” ás heresias.

Tradição e Regra de fé
Dentre todos os tipos de escritos cristãos, percebe-se que eles criaram um dogma de fé, como mostra a forma em que expressam sua fé, como encaram os grupos hereges e o gnosticismo. Disso, percebe-se que “nasce” a Tradição cristã: a Tradição não foi criada, ela foi recebida.

Antes do dogma ser uma norma, ele surge da fidelidade aos Evangelhos e suas mensagens, mesmo que ainda os escritos do Novo Testamento não sejam canônicos. Mas, é a fé que o faz fiel aos escritos.
A Tradição é norma non normata, ela vêm dos apóstolos para o período pós-apostólico, e não o contrário, já que muitos escritos e ensinamentos nasceram no período posterior aos apóstolos.
A sucessão apostólica, também nasce da Tradição, quando os ministros das primeiras comunidades viram a necessidade de nomear novos “pastores”, pensando no futuro da Igreja. E assim, esses novos ministros foram nomeando outros conforme a necessidade. Antes disso, Jesus havia escolhido os primeiros apóstolos, e foram estes que nomearam os primeiros ministros, presbíteros e diáconos.
O cânon das Escrituras, em especial o Antigo Testamento, foi herança do cânon judaico, e não uma elaboração cristã propriamente dita. Porém, a elaboração do cânon do Novo Testamento, foi mais complicada, já que haviam vários escritos que tinham que coexistir ao lado do Antigo Testamento, e selecionaram apenas os que condiziam com a realidade das comunidades cristãs, sem mácula de ensinamentos hereges. O cânon é um dogma de fé.
O dogma de fé é a união da fidelidade à Tradição e as Sagradas Escrituras, tida como escritos canônicos.

Da economia à “teologia” (século III)


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 03/11/2010.

Os cristãos se diferenciam das outras religiões monoteístas, pelo dogma da Trindade: “Um Deus, três pessoas”, sendo a noção de pessoa diferente de natureza. Porém, nos primeiros séculos da era cristã houve dificuldade de muitos cristãos em formularem o sentido da fé trinitária, mesmo que a celebrasse. A partir do dogma trinitário surgem todos os outros dogmas, e dele que nasce todo o sentido místico, litúrgico e é o centro do cristianismo.
Os grupos não cristãos, judeus e pagãos, afirmavam que os cristãos adoravam dois deuses, pois também adoravam Jesus. A partir disso, surgiram outros questionamentos, como a natureza de Cristo, se é somente divina ou somente humana. Para tentar escapar de acusações por parte dos judeus e dos pagãos, grupos formulam idéias pra explicarem essa idéia, porém muitos se reduzem a um pensamento herege.
Os adocianistas diziam que Cristo foi um homem que se tornou Deus, pois Ele o adotou, em conseqüência disso surgiu o pensamento ebionista. Estes diziam que Jesus era homem, que foi um grande profeta e elevado a Deus como um Filho. Para os modalistas, Deus é um, as três pessoas não são eternamente distintas, são apenas três modos de Deus se relacionar com o mundo, é Deus que se manifesta de forma diferente.
Os que compartilhavam as idéias de Práxeas, diziam que os cristãos eram politeístas, porem Tertuliano apresenta a monarquia da Trindade, é o comando de um (o Pai), que mesmo tendo um Filho não perde sua autoridade, pois este nasce da vontade do Pai, por isso ele não é outro deus que surge como rival, apenas faz a vontade se cumprir, e em seguida o Espírito vem ao Pai pelo Filho.
Tertuliano também apresenta que Deus é único, com um modo de disposição chamado economia, onde Deus realiza seus planos de salvação através do Filho e do Espírito. E os distingue pelo grau, pela espécie e pela forma. Pelo grau. O Espírito é o terceiro em relação ao Pai; pela espécie, são realidades distintas que compartilham a mesma fonte, a mesma substância, mas não no mesmo nível do Pai, sendo o Pai a totalidade e o Filho a derivação, juntos em unidade; e na forma há a individuação do ser espiritual.
Segundo Tertuliano, o Verbo, sempre chamado de Filho, sai do Pai, pois se Ele foi gerado, então toma por reconhecimento sua emissão. Sua geração é interior, diferente de Ptolomeu que afirma que é do exterior. O Verbo sempre esteve dentro do Pai, mesmo antes da criação ou mesmo do seu envio, porque o Verbo não pode ser limitado á uma origem, senão ele não seria eterno. E coloca o Espírito Santo numa disposição intra-trinitária, assim como o Filho está no Pai, o Espírito está no Filho. Ele sai do Pai, permanece no Filho e só se manifesta como presença divina, em Pentecostes, fazendo número com o Pai.
O Filho, Jesus, se fez homem, nasceu de uma mulher, teve um corpo, carne e alma. Tornando-se homem, assumiu todas as realidades de homem, e na sua morte na cruz, também morreu como um.
Orígenes diz que o Filho é múltiplo do Pai, e não completamente Uno. Sendo o Filho intermediário ao Pai, sendo que Ele por amor a humanidade se faz homem. O amor nasce do amor.
Como regra de fé, Orígenes coloca em primeiro ponto Deus-Único, criador; em seguida Filho - Jesus, que encarnou, morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus; logo o Espírito Santo; nos últimos seis pontos coloca a alma e a vida eterna; a ressurreição dos mortos; o livre-arbítrio; os anjos; o começo do mundo e a inspiração. Esses seis últimos pontos foram uma nova proposta apresentada por ele como regra de fé, pois os três primeiros já eram de conhecimento de outras regras de fé.
Não há Pai, se não há um Filho; Orígenes também afirma que o Verbo também estava presente na criação, fazendo a alegria do pai, sendo Filho é a Imagem de Deus. Apesar de serem distintos, há a unidade entre eles, os dois são um Único Deus. Jesus é a imagem da bondade do Deus invisível.
O Espírito Santo, mesmo sendo criado pelo Pai, não é chamado Filho, pois precisa do Filho para subsistir, sendo assim, o Espírito depende do Filho, e este afirma sua existência. Ele é o mediador entre o Pai a as criaturas criadas por Ele.
Com os Padres pré-nicenos surge o subordinacionismo, onde o Filho e o Espírito estão abaixo do Pai, pois Ele é o maior na ordem das pessoas divinas. Porém, são Deus junto com o Pai.

Breve reflexão sobre: "Comentários sobre a carta aos Gálatas" de São João Crisóstomo, Padre da Igreja, Arcebispo de Constantinopla.


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 26/11/2010.

João Crisóstomo, com excelência e autoridade, comenta a carta aos Gálatas, dividindo o texto em partes, seguido de uma exegese, que o garante como um grande doutor da Igreja. João Crisóstomo deixa explicito uma profunda empatia pelo apóstolo Paulo, pelo qual fala com reverência, o mostra como um fiel aos ensinamentos de Cristo, aprendendo com ele a ser justo, ora felicitando, ora repreendendo quando preciso.
Paulo é rigoroso em relação aos Gálatas, principalmente quando diz “as Igrejas da Galácia,” sem usar as palavras de afeto que utiliza em outras cartas. João Crisóstomo o justifica, dizendo que Paulo escreve com a intenção de reafirmar o que havia pregado, já que estava sendo levado ao descrédito por não ser um dos doze. No início da carta, eleva sua autoridade, relembrando que foi o próprio Cristo que lhe fez o chamado a conversão e o torna apóstolo, e não um homem comum.
João Crisóstomo, contra o arianismo, usa o trecho da carta que diz “Por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai”, afirmando que os dois são Um em unidade e não o Filho inferior ao Pai. O Filho tem o mesmo poder do Pai, ele morre e ressuscita; é Cristo que opera a ressurreição.
“[...] e todos os irmãos que estão comigo,” com essas palavras diz que seus ensinamentos não partem de uma compreensão individual, mas que existem outros que compartilham esse mesmo pensamento. Em seguida, volta a combater os hereges com novos argumentos que mostram que não tem como o Filho estar abaixo do Pai.
Além dos arianos, combate a doutrina dos maniqueus, que pregam a concepção do mal como não gerado, a preexistência da matéria e a recusa do Antigo Testamento. Com isso, diz que o mau no mundo exposto por Paulo não é o mesmo da compreensão do maniqueísmo, senão, seriam justificáveis os homicídios e suicídios como fuga de uma realidade maléfica. O mal apresentado na carta é a má vontade dos homens, suas ações e suas circunstâncias.
Paulo, a partir de Cristo, refere-se a Deus como Nosso Pai, mostrando que a Nova Aliança é agradável a Ele. Depois das palavras introdutórias encerra com a doxologia e o Amém, mostrando que tudo está consumado, não precisa de mais palavras. Daí começa as repreensões aos Gálatas.
Primeiro pela infidelidade aos Evangelhos, aceitando apenas um, quando passaram a seguir idéias marcionitas, lembra Crisóstomo e completa que todos os quatro Evangelhos juntos formam apenas Um Evangelho de Cristo. Eles esquecem os ensinamentos de Cristo e voltam praticar costumes judaicos, como a circuncisão, o jejum no mesmo dia dos judeus e a observância do sábado. E não somente as práticas judaicas, mas um sincretismo com os pagãos, quando observam os sinais da natureza pra predizer algum acontecimento ou superstições que são semeadas no crescimento da criança. E Paulo continua, se alguém anunciar algum ensinamento contrário ao Evangelho, seja considerado anátema, mesmo se fosse ele próprio que dissesse.
Paulo não busca agradar aos homens e sim a Deus, pois é Deus que ele busca. Crisóstomo confirma dizendo que se Paulo quisesse agradar aos homens, estaria do lado dos judeus e perseguiria a Igreja de Deus. E retoma o que disse no início, onde não foi nenhum homem comum que lhe transmitiu aquilo que prega, mas o próprio Cristo. Se não fosse Ele próprio, não teria uma mudança de vida radical como teve, e se coloca como exemplo, antes um perseguidor, depois um pregador daquilo que perseguia. Fala disso, sem ter vergonha, usa como um verdadeiro testemunho. Deus o escolheu desde o nascimento, mas somente com a Revelação de Cristo que reconheceu seu ministério.
João Crisóstomo dá um dos motivos pelo qual admira tanto o apóstolo, é devido sua humildade, pois na carta ele diz apenas onde foi, e não quantos e quem converteu. Não se vangloriava, e seu caminho era cheio de perigos e perseguições, porque ele incomodava a todos com a Verdade. Em seguida, exalta novamente a humildade dele, quando mostra que o apóstolo foi se encontrar com Pedro, e fazer-se conhecer, já que não tinha necessidade disso, por não precisar de Pedro. Em conseqüência disso, torna-se grande amigo do discípulo. Destaca a humildade também no fato de querer justificar-se, e após estar com Pedro, volta a sua missão, e fica feliz sem vangloriar-se por alguns aceitarem tudo o que pregou.
No segundo capítulo do livro, relembra a viagem de Paulo a Jerusalém, onde ouve o primeiro Concílio, que tratou de questões como a circuncisão. E condena os “irmãos” infiltrados, que dentro da comunidade pregam uma verdade contrária, semeando a discórdia. Estes que pregam uma falsa verdade terão que prestar contas com Deus, e que ele nada iria interferir. Completa falando que veio para os gentios e os outros (apóstolos) para os judeus.
Tinham resolvido o problema da circuncisão, porém ocorre um incidente em Antioquia, que a princípio parece que Pedro é acusado por Paulo de hipócrita, pelo fato de Pedro estar com medo dos circuncisos. Crisóstomo novamente explica o motivo das palavras de Paulo e da situação. Como em Jerusalém ainda permitiam a circuncisão, não podiam simplesmente afasta-los da Lei de modo radical, e Pedro tinha medo que se escandalizassem com a pregação, por isso agiu com prudência, daí Paulo o repreende, pois ele não precisa ter medo.
A partir das palavras de Paulo, João Crisóstomo faz um belo discurso, sobre a Lei e a fé em Cristo. Em Cristo, não precisa seguir os preceitos da Lei, e não tem como seguir os dois. Quem segue um preceito da Lei deve segui-la toda, quem circuncisa deve continuar guardando os sábados, imolando animais. Se não aceita as palavras de Cristo, fique com a Lei. Se a justiça vem pela Lei, Cristo morreu em vão.
Finalizando o capítulo, João Crisóstomo acentua o amor de Paulo por Cristo e da mesma forma o de Cristo pela humanidade, por ter se entregue por ela. Como significado desse amor, fica as palavras: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”.

Análise da Epístola de Barnabé [apócrifo]


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 15/09/2010.

Na epístola atribuída a Barnabé, percebe-se que o autor é tendencioso, por fazer uma interpretação particular das escrituras e usá-las como argumento pra provar sua idéia, principalmente contra os judeus. Assim como a apresentação da carta mostra, é notório que é dividido em uma parte dogmática e outra moral.
É considerado apócrifo, pois foi encontrado depois do fechamento do cânon, mesmo assim, tem em seu conteúdo ensinamentos que não condizem com a realidade das comunidades cristãs. Entende-se que, se fosse do conhecimento na época do fechamento do cânon, ainda continuaria fora, como apócrifo. Nesse texto, poder-se-á observar que, mesmo sendo considerado um texto não inspirado, encontra-se elementos que não podem ser descartados.
Sobre os sacrifícios, diz que Deus não quer nenhum sacrifício, o que é plausível, pois acaba com o derramamento de sangue, e completa dizendo que isso foi substituído pela lei de Jesus Cristo. Em seguida, exagera quando fala sobre o jejum, negando-o completamente dando um outro sentido, pra o que ele afirma ser o verdadeiro jejum. Esquecendo que Jesus também jejuou (Mt 4,2) e ensinou como deve ser o verdadeiro jejum (Mt 6,16-18). Mas, o que ele propõe como jejum: “Desata todas as amarras da injustiça; desfaz as cordas dos contratos iníquos; envia os oprimidos em liberdade; rasga toda escritura injusta; reparte teu pão com os famintos; se vês alguém nu, veste-o; conduz para a tua casa os desabrigados; se vês algum pobre, não o desprezes; não te afastes dos membros de tua família”. É o que ensina Jesus, como mostra os evangelhos.
Lembrando que o autor é tendencioso, isso se expressa mais nitidamente em relação aos judeus, principalmente em relação à Aliança, afirmando que os judeus a perderam: “Pesquisemos, para ver se ele deu ao povo a Aliança que prometera juramento a seus antepassados. Certamente ele a deu, mas eles não foram dignos de recebê-la, por causa de seus pecados.”, por terem feito ídolos enquanto Moisés estava no Sinai. E que a Aliança é apenas para os cristãos: “Claro que ela é nossa.”, pois ela foi selada por Jesus Cristo nos corações dos fiéis.
Nos capítulos seguintes, narra sobre Cristo. A princípio fala da paixão e morte de Jesus (cap. 5); em seguida faz do texto uma exegese (cap. 6); E por fim, que Jesus é cordeiro que morreu pela expiação dos pecados (cap. 7 e 8).
No capítulo 9, ele inicia bem falando da circuncisão, substituindo a da carne para a do coração e termina com uma interpretação duvidosa e estranha: “E Abraão circuncidou entre os homens de sua casa trezentos e dezoito homens. Qual é, portanto, o conhecimento que lhe foi dado? Notai que ele menciona em primeiro lugar os dezoito e depois, fazendo distinção, os trezentos. Dezoito se escreve: I, que vale dez, e H, que representa oito. Tens aí: IH(sous) = Jesus. E como a cruz em forma de T devia trazer a graça, ele menciona também trezentos (= T). Portanto, ele designa claramente Jesus pelas duas primeiras letras e a cruz pela terceira.
Já a interpretação seguinte sobre o significado espiritual das prescrições alimentares, é aceitável e interessante. Pois, segundo ele não existe uma proibição a comer esses animais, mas sentar-se á mesa com pessoas que se assemelham a eles. Ele citou Moisés e Davi, porém faltou lembrar que Jesus muda essa realidade sentando-se a mesa para comer com pecadores e cobradores de impostos.
Na parte doutrinária, ainda fala sobre a cruz de Cristo, sobre o sábado, a água do batismo e sobre o templo. Os assuntos citados nessa parte, geralmente não têm ligação, e ele finaliza com a conclusão: “Eu vos expliquei essas coisas com a maior simplicidade possível, e espero não ter deixado nada de lado. Com efeito, se vos escrevesse sobre o presente ou o futuro, não compreenderíeis, pois isso permanece em parábolas”. Daí faz surgir o questionamento: “Por que e pra quem escreveu?”.
Por fim, na segunda parte, nos ensinamentos morais, assim como o capítulo primeiro da carta e a introdução do capítulo 2, ele escreve bem, e defini-los-ia como a parte não apócrifa do texto, pois poderia pega-lo todo sem cortes. É importante colocar o que ele diz sobre os ensinamentos do Senhor: “Os ensinamentos do Senhor são três: a esperança da vida, começo e fim da nossa fé; a justiça, começo e fim do julgamento; o amor, testemunho pleno da alegria e contentamento das obras realizadas na justiça”. E finaliza mostrando dois caminhos: um das trevas e um da Luz, e no da Luz relembra o decálogo, ou seja, praticar o bem e evitar o mal.

A Divindade do Filho e do Espírito Santo

Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 03/11/2010.

Se Jesus Cristo foi totalmente ou parcialmente homem ou Deus, foi uma discussão que durou grande parte do século IV. Esse período foi marcado por um grande número de heresias em torno do tema, e responsável por muitos cismas, principalmente no Oriente.
Um dos principais problemas foi com o presbítero da Igreja de Alexandria, Ário, logo fundador do arianismo. Sua doutrina, herdada da tradição monarquiana, consistia em: negar a divindade do Filho e do Espírito Santo, porém só aceitava o Pai como único e verdadeiro Deus; que o Logos e o Pai não eram da mesma essência; que o Filho era uma criação do Pai; que houve um tempo em que o Filho ainda não existia.
“Havia um tempo em que ele não era;
Antes de ter sido gerado, ele não era;
Ele veio a ser a partir do que não é, ou de uma outra hipóstase (hypostasis) ou substância (ousia).”
Apresenta ainda, que Jesus era um Deus inferior, por ter suportado a paixão, e se fosse um Deus verdadeiro teria negado esses tratamentos. Jesus só foi santificado pelo Pai através do batismo, e devido ao fato de ser um Deus inferior, foi obediente ao Pai durante toda a vida.
Através do Concílio de Nicéia (325), foi redigida uma profissão de fé, “Símbolo de Nicéia”, a qual tinha por objetivo primordial combater a doutrina de Ário. Esta profissão de fé afirmava que o Verbo é verdadeiro Deus, consubstancial ao Pai, o qual possui com Ele a mesma natureza divina e as mesmas perfeições.
“Cremos num só Deus [...]
E num só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, único gerado, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
Gerado, não criado
Consubstancial ao Pai,
Por que tudo foi feito, o que está no céu e o que está na terra, [...] e no Espírito Santo.

O arianismo continua e depois do Concílio surgem dois grupos: os seguidores de Nicéia e os de Ário. Um grande adversário do arianismo foi Atanásio, que escreveu Tratados contra os arianos, seus Tratados revelam uma profunda exegese dos textos sagrados e também na profissão de fé segundo o símbolo niceno. O que é notório lembrar, o arianismo deixou uma herança que ainda existe no século XXI, os Testemunhas de Jeová. Já no cristianismo Cristo não é 50% homem e 50% Deus; Ele é 100% Deus e 100% homem.
Além da divindade do Verbo, foi discutida também em relação ao Espírito Santo. Apesar de estar presente desde a Criação, só foi lembrado numa discussão muito tempo depois, quando colocaram a questão se tudo que foi atribuído ao Filho também poderia ser ao Espírito.
Os arianos, por negarem o Filho, também negam o Espírito. E surge os “trópicos”, eles colocam que se o Espírito é Deus, logo deve ser consubstancial ao Pai, irmão do Filho, ou se é gerado do Filho, o Pai é o avô, ou o Espírito é um anjo. Depois concluem que o Espírito não foi gerado. Outro grupo, os pneumatômacos ou os “combatentes contra o Espírito Santo”, surgem no seio do arianismo. Diziam que o Espírito está abaixo do Pai e do Filho, por isso, não deve ser glorificado com eles.
Para defender o Espírito, Atanásio de Alexandria e Basílio de Cesaréia publicam cartas e tratados a respeito da divindade do Pneuma. Atanásio mostra que o Espírito não é anjo nem criatura do Pai, sendo que sua ação é de Deus, quando santifica, glorifica, unge e vivifica. Seus argumentos se baseiam na fé batismal, e na relação trinitária, na qual o Espírito tem relação com o Pai, assim como o Filho está com Ele, e o Verbo com o Espírito.
Basílio de Cesaréia, também tem seus argumentos fundados na fé batismal, e ainda complementa que se Deus é espírito, logo é Espírito Santo. E que somente Deus, pode criar, recriar, renovar e santificar. Ele coloca o Espírito, o Filho e o Pai como iguais, sem afirmar claramente que o Espírito é Deus.
Se Nicéia tratou das questões do Verbo que é Deus, Constantinopla I (381) veio para complementar, proclamando a divindade do Espírito Santo. Esse Concílio confirmou e renovou a fé de Nicéia. Depois disso, houve uma pacificação a respeito desses questionamentos que perduraram pelo século IV. E o símbolo antes de Nicéia passa a ser de Nicéia-Constantinopla.