segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Análise do texto: O testemunho da Igreja antiga – Uma economia sacramental


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina História do Cristianismo (Antiga) - 24/09/2010.

É notório nos primeiros 11 séculos da história da Igreja, encontrar dificuldades relacionadas aos sacramentos: como nomeá-los, celebrá-los, o que é, e o que não é sacramento e quais listá-los como um cânon.
Para compreenderem o que era sacramento, os Padres da Igreja inspiraram nas Escrituras e viram na Tradição as palavras e nos gestos da liturgia.
Desde as primeiras comunidades, como se vê em Atos dos Apóstolos, já se celebrava a liturgia, mesmo que suas orações fossem de raiz judaica, logo passaram a compor as próprias orações e hinos. Também em Atos, nascem os primeiros sacramentos como rito das comunidades: o batismo e a fração do pão, mesmo que ainda não dessem o valor de sacramento a eles. Pois, os sacramentos não foram inventados, eles nasceram da herança que Cristo havia deixado aos apóstolos, como a Eucaristia, e da herança dos primeiros apóstolos, pois diziam que receberam o batismo de Jesus.
O rito sacramental, não é rito por si só, ele se completa a partir da vivência eclesial em busca do Reino de Deus. O batismo sem a palavra é apenas água, como afirma Santo Agostinho, e assim rito + palavra se tornam manifestação de Deus. Antes de serem rito, é um ato que Deus concede á Igreja, e como afirma novamente Agostinho, se um dos apóstolos batiza, é Cristo quem batiza.
Os sacramentos são gestos de fé, onde os cristãos afirmam em que acreditam e confirmam com o “Amém”. Não o fazem sozinho, é sempre em presença do bispo e do presbítero junto á comunidade, e frente á ela, professam sua fé.
 No princípio, tudo era sacramento, desde a integração de um novo fiel até um dos outros que hoje concebemos, e por serem muitos, não é possível listá-los todos. E antes dessas ações receberem um nome em comum, já existiam. Os primeiros termos foram: mystérion (grego), misterium (latim) e raza (siríaco), pois Cristo é o Mistério revelador.
Esse sentido de mistério, não é o mesmo concebido como algo inexplicável e oculto, por isso, temia-se que o confundisse com as religiões de mistérios. Daí, surgiu o termo sacramentum, ligado ao gesto sagrado. Os ritos sagrados, também só foram nomeados como liturgia, muito tempo depois, de serem compreendidos, no século XVI. Uma concepção sobre o nome que durou por muito tempo, foi o sacramentum derivado de secretum, ou seja, o sacramento é segredo, a ação divina está oculta. Esse pensamento durou desde o século VI até o século XI.
A necessidade dos sacramentos fora questionada no princípio do cristianismo, porém, “o rito tem uma justificação na experiência cristã não apenas porque Jesus o decidiu, não apenas porque a criação foi assumida pelo rito eucarístico, mas porque, no seio da fé, a condição humana requer gestos sensíveis e rituais”.
Além da necessidade de se ter ritos no cristianismo, outras questões foram levantadas e discutidas por muito tempo, sendo que algumas até hoje são comentadas e questionadas. A necessidade de batizar as criancinhas, foi um assunto que era decidido e outrora, voltava a ser repensado, porém Agostinho, sabiamente diz: “a criança é apresentada não tanto por aqueles que a trazem nos braços – ainda que seja por eles também, quando são verdadeiros crentes – quanto por toda a assembléia dos santos e dos fiéis. É a Mãe Igreja, como totalidade, que opera, aquela que está nos santos. Como totalidade, ela é constituída por todos. Como totalidade, ela dá a luz a cada um”. Isso lembra o atual batismo onde as crianças são batizadas, onde sua fé é afirmada pelos pais e sua formação cristã é comprometida por toda a comunidade.
Outro assunto que entrou em questão, foi se pode, ou não rebatizar cristãos batizados em uma igreja separada. Primeiro, afirmaram que havia ter outro batismo, em seguida Estevão afirmou que apenas a imposição de mãos para penitência era suficiente. Apenas nos dois concílios seguintes, Arles e Nicéia, e em seguida Laodicéia e Constantinopla, que afirmaram o batismo em nome da Trindade.
O batismo é o único sacramento que aparece na profissão de fé cristã, pois ele é o sacramento que inicia o fiel na vida cristã. Ele é tão importante quanto os outros sacramentos.
O significado da Eucaristia também foi questionado e levantado as opções: um pensamento dizia que o corpo eucarístico é o mesmo do Jesus histórico, e outro dizia que o corpo eucarístico era apenas simbolismo. Somente em 1059, em Latrão, que foi anunciado que “O pão e o vinho consagrados não apenas um sacramento, mas verdadeiramente também o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Com essas dificuldades de entendimento dos sacramentos, foi difícil instituir a primeira lista. Muitos Padres da Igreja, tanto no oriente quanto no ocidente, formularam a sua lista de ritos. Por isso, só no século XII que se tem o primeiro “cânon” sacramental”.
A Teologia sacramental está baseada na Bíblia e na prática pastoral. Quem celebra os sacramentos acolhe as Escrituras e a Tradição. Por isso, Igreja do Oriente e do Ocidente, apesar de abrangerem de forma diferente alguns ritos, tem mais em comum que divergências.

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