sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Resenha do livro: “Ovelha ou Protagonista? – A Igreja e a nova autonomia do laicato no século 21”


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Pastoral - 18/11/2010.



Assim como a população passou do campo para a cidade, e deixou a vida no campo onde havia o cuidado do rebanho de ovelhas e do gado, também a sociedade urbana deixou de ser ovelha da Igreja, como pastora. Com a perda da identidade do campo, há também perda da identidade religiosa. E não percebendo passaram a seguir outra “pastora”, e que mesmo não preocupada com o bem-estar dos seus “fiéis” apenas com o numero de acessos, ganha todo dia novos membros, a Internet e os outros meios de vídeo comunicação.
Mesmo que possa ser uma grande aliada à Igreja, a Internet e os outros meios são usados como fonte de exploração de um acesso de conteúdo pornográfico, “navegando” no mundo do “prazer.com”, e na maior parte dos casos, priva seus internautas ao convívio externo com outras pessoas e os reduz apenas ao convívio em redes sociais, que não garante 100% a originalidade das informações do “novo amigo” virtual.
Também presente nessa realidade moderna, é notório o grande aumento de diversos problemas, como violência, pobreza, descaso com o outro e até mesmo o medo do mundo. Diante disso, Blank afirma que é nesses momentos que o homem deve buscar Deus e não se afastar Dele[1], porém completa que é um Deus que perdeu sua identidade no meio da sociedade ou mesmo um Deus que as pessoas querem se afastar.
Essas pessoas, da sociedade pós-moderna, acreditam que devido ao aumento intelectual e cultural, deve deixar de crer em um Deus invisível, principalmente a instituição que prega esse Deus. Em contraste a isso, procuram curas milagrosas em outros meios, participam de cultos “pagãos” e surge o questionamento: Então porque o abandono da Igreja?
Porque a Igreja é uma instituição de responsabilidade, onde seus fiéis participam e vivem em comunidade, enquanto outros “apriscos” não têm isso como fundamento. Vivem em um mundo do gasto desenfreado, que os torna presos aos seus empregos e ao dinheiro, e quando encontram o único lugar onde têm liberdade, a Igreja, a negam, pois devido a sua liberdade é a única coisa que conseguem negar na realidade em que estão presos. Blank mostra que a sociedade que vive em metrópoles é marcada por contradições[2], uns rejeitam a religião, outros a procuram como forma de estarem seguros, rejeitam apenas a instituição, como o mecanismo de defesa pra demonstrarem sua liberdade, como citado anteriormente.
Diante dessa nova realidade, aqueles que permaneceram fiéis a Igreja, os leigos, têm que mudar seu papel, deixarem de ser apenas ovelhas guiadas e tornarem-se protagonistas onde vivem, sendo os principais responsáveis pelas mudanças sociais e fazendo com que seus pastores se tornem melhores, como é explícito em documentos do Sínodo episcopal Santo Domingo, em documentos do Concílio Vaticano II e no Direito Canônico.
É notório, que todas as idéias são boas enquanto escritas e que se tornam muitas vezes difíceis de ser aplicadas na prática. Não é fácil para o leigo deixar de ser apenas um membro e passar a ser o principal sujeito da pastoral, e principalmente para o corpo eclesial abandonar seu poder.[3]
Discordo do Blank, quando coloca que foram os pensadores da Renascença e os trabalhadores da Revolução Industrial que se afastaram da Igreja, infelizmente foi a Igreja que os abandonou quando precisaram. Se tivesse acolhido os cientistas, não teria necessidade de pedir desculpas por erros cometidos na época, um século depois. E no caso dos operários, se tivesse seguido o que disse o Papa Leão XIII, na Rerum novarum, e os acolhido na atual situação deles. Por isso, não foi uma simples mudança de mentalidade.
E o mesmo está acontecendo no século 21, com a emigração silenciosa, e tende a piorar se a Igreja não parar para ouvir seus fiéis e discutir sobre os assuntos considerados polêmicos. Justificar o motivo da decisão em tais assuntos e não apenas repreender por estar indo contra o Magistério, e com isso fazer com que o fiel leigo dê valor ao Magistério da sua Igreja.
Dentre as problemáticas apresentadas por Blank, três paradigmas devem ser quebrados: o primeiro é o de “ovelha obediente” e passar a ser agente transformador na Igreja e no mundo; o segundo junto com o terceiro, a Igreja tem que deixar de ser hierarquizada, colocando o papa no topo e os fiéis na base; acabar com a imagem do leigo como ignorante no assunto, para se tornar uma verdadeira Igreja Viva, Povo de Deus em comunhão, onde há a participação de todos, movidos pelo mesmo Espírito Santo.
Assim também, três são as exigências para o leigo: primeiro, deve resgatar sua identidade como cristão e acabar com as acepções o qual está submetido, como a ovelha, que é sempre obediente e aceita tudo o que lhe é designado, não está preparada para mudanças; os consumidores, que pensam que a Igreja é uma prestadora de serviços, que deve estar submetida a eles; os emancipados, que se consideram os mais aptos para os serviços, gostam de questionar tudo relacionado à Igreja, e se consideram os certos naquilo que afirmam, se contrariados fogem; os resignados, que se afastaram da Igreja por estarem desanimados pois ela não atendeu a expectativa que esperavam e os revoltados pela condição que se encontravam, por não terem voz nem vez na Igreja. A segunda exigência, perceber os sinais dos tempos, e saber fazer uso do que a pós-modernidade oferece, tornando aliada na evangelização; E terceira, fazer com que o ideal de leigo na teoria se faça na prática.
Para ser um verdadeiro protagonista, o leigo deve exercer o seu laicato conforme a sua virtude, trabalhando junto para formar uma Igreja unida, onde ninguém é melhor que ninguém, nem leigo nem clérigo. E juntos movidos pelo Espírito Santo. Para esse ato se concretizar, parte da Igreja se abrir para uma mudança, e mesmo que demore, ela é capaz de reconhecer isso.


[1] P. 07
[2] P. 26
[3] P. 38


BLANK, RENOLD J.: OVELHA OU PROTAGONISTA?: A IGREJA E A NOVA AUTONOMIA do laicato no século 21


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