sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Comentário de Antropologia Teológica [2]

SUSIN, L. C. A Criação de Deus, p. 11-84.

Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia sistemática (antropologia teológica) .

“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn1,1), assim começa a narrativa da Criação. Porém, não devemos compreender essa criação apenas num pequeno espaço, o planeta Terra, e sim deslumbrar que a Criação está além, e compreende todo um universo, que a cada dia cresce cada vez mais. Lembrando que estando num ponto minúsculo dessa grande Criação, foi onde Deus depositou seu amor, e se fez homem pela humanidade.
De modo radical, a criação secularizou-se e o progresso da criação passou a pertencer ao homem, através do avanço das ciências e tecnologias em favor da natureza. Enquanto que a concepção teológica ficou paralisada por muito tempo. Mas, a modernidade também tem suas crises ecológicas, apesar de toda a tecnologia a seu serviço.
O homem vê-se como um senhor de tudo e subjuga a natureza a si, retirando aquilo que necessita e que não precisa para sobreviver. O desejo exacerbado de consumo e progresso faz com que a natureza se torne uma fonte de renda que deve ser explorada sempre mais. Ao invés de manter uma relação de integração, onde o ser humano é inserido nesse meio, como um parceiro amistoso.
A realidade vista é outra, onde há uma guerra da humanidade contra o resto da Criação [p.15], onde o fim de um leva ao fim do outro. Uma guerra sem propósito onde se busca acumular infinitamente, esquecendo que se vive num espaço finito [p.14]
Agora, cabe a Teologia iluminar o mundo, ajudar a humanidade a compreender o sentido da natureza na criação, onde os valores cristãos não estão apenas na contemplação e no social, mas num olhar ecológico do meio que se vive. Mostrar uma nova perspectiva dos textos bíblicos, explanando que tudo e todos são obras do mesmo Criador.
Lembrando Francisco de Assis, com o Cântico do Sol [p.18]: Louvado sejas, meu Senhor,/ Por nossa irmã a mãe Terra/ Que nos sustenta e governa,/ E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas”
. Dando um maior valor a terra, esta que nos sustenta em vida e nos acolhe no momento da morte.
Sob outro olhar, surgem questionamentos e respostas pra explicar a presença do ser no mundo, e o mundo no universo, e este, o motivo pelo qual foi criado. A ciência explica através de prováveis teorias entre as quais o Big Bang onde se refere à idéia de que o universo estava originalmente muito quente num determinado tempo no passado, e devido ao seu estado denso, provocou uma grande explosão que faz com que ele continue em crescimento; a filosofia, tenta explicar o existir do Universo, enquanto a Teologia tem uma luz para a resposta, que coloca um Autor para tudo isso, que geralmente é questionado pela ciência. Mas a Criação do “nada” por Deus, não é uma compreensão de Big Bang, que também foi do “nada”? Deus não pode ter sido o Autor desse grande mistério exposto pela ciência? Apreciando o Universo, vemos que ele não é um acaso, e sim obra da Sabedoria que vem de Deus.
Antes de qualquer compreensão científica, a religião dá resposta através de mitos e linguagens próprias. O mito, não deve ser entendido como algo falso, e sim como um conhecimento revestido de conteúdos simbólicos, diferente e próprio de cada povo. O mito, com essa concepção dá um sentido à vida, ele mostra um caminho a se esperar. Do mito, nasce a fé de um povo.
Além do mito, a Sabedoria surge não como a resposta última dos mistérios existentes, mas como uma luz de pensamento que leva a reflexão do homem para o mundo e principalmente para que ele reconheça quem o criou. Lembrando sempre que, indiferente dos caminhos que tomam, todos tem o mesmo fim.
Diferente do mito e da sabedoria, estando além, mesmo compreendendo as duas, a teologia busca a verdade, seja ela formulada pela ciência ou pela filosofia. Sendo que seu ponto de partida começa pela fé, e sua elaboração ultrapassa as que são apresentadas pelas outras ciências. [p.30] É a Teologia, que de forma humilde reconhece um Criador, e também vê em seu Filho o surgimento da Nova Criação. Fecundados na primeira criação, passamos ao trabalho de gestação com a Nova Criação em Cristo e ficamos a espera de um parto num fim escatológico.
“O Criador abraça a criação e a molda com suas “duas mãos”, o Espírito e o Filho. No Espírito, Deus está sempre presente em toda a criação, de tal forma que tudo está em Deus e Deus está em tudo [Tomando cuidado pra não entendermos como panteísmo]. No Filho, Deus se faz a mais humilde e excelente criatura, rompendo hierarquias e tornando-se a forma acabada da criação, mediante a Páscoa” [a Nova Criação]. [p.44]
Voltando ao papel da Teologia, que é orientar o povo de Deus, é notório salientar que os escritos bíblicos foram escritos em um contexto histórico posterior ao período narrado, muitas vezes, um intervalo de tempo muito longo. E principalmente que esses escritos, mesmo não tendo um relado fiel ao acontecido, trazem em si um simbolismo grande, que deve ser analisado e interpretado com cuidado.
Deus, quando cria, não toma uma parte de sim mesmo para fazer parte da obra criada [p.51], mas cria através da palavra. Como lembra João: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo1,1-4). Na Palavra está a vida, luz dos homens, mostrando que Deus ama a vida, e que o desejo de sua Criação é perfeito, é um artista, um arquiteto, que não criou nada apenas pelo fato de criar, mas para que cada coisa ficasse em harmonia com as outras, como uma pintura.
Deus é Aquele que mantém e contém a existência de todas as coisas, por isso, como Ser onipotente cuida de tudo, não intervindo de forma “direta” como queremos conceber, mas age através do Espírito, pois Ele [Espírito Santo], esteve agindo desde o princípio, como mostra os relatos de Gênesis 1. Transforma o caos em cosmos, a desordem em beleza.
Ao contrário do caos, o cosmos precisa ter ordem para ser belo, daí Deus cria por etapas: primeiro a luz, alegria da vida, lembrando os ícones bizantinos, quando são escritos, começam pelo branco, fazendo memória da criação; depois as águas, que dão um contorno á obra criada; e os animais conforme suas espécies e ambientes, um de cada vez, já que Ele dá valor a cada um dos seres criados. [p.70]
No sábado, o sétimo dia, onde Deus finaliza sua obra, Ele descansa e habita em sua obra. Sendo que esse sábado não foi um fim, já que através do Espírito continua criando. O sábado é contínuo, e deve ser memorado, como o domingo, que fazemos memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Seu Filho.

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