sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Breve reflexão sobre: "Comentários sobre a carta aos Gálatas" de São João Crisóstomo, Padre da Igreja, Arcebispo de Constantinopla.


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 26/11/2010.

João Crisóstomo, com excelência e autoridade, comenta a carta aos Gálatas, dividindo o texto em partes, seguido de uma exegese, que o garante como um grande doutor da Igreja. João Crisóstomo deixa explicito uma profunda empatia pelo apóstolo Paulo, pelo qual fala com reverência, o mostra como um fiel aos ensinamentos de Cristo, aprendendo com ele a ser justo, ora felicitando, ora repreendendo quando preciso.
Paulo é rigoroso em relação aos Gálatas, principalmente quando diz “as Igrejas da Galácia,” sem usar as palavras de afeto que utiliza em outras cartas. João Crisóstomo o justifica, dizendo que Paulo escreve com a intenção de reafirmar o que havia pregado, já que estava sendo levado ao descrédito por não ser um dos doze. No início da carta, eleva sua autoridade, relembrando que foi o próprio Cristo que lhe fez o chamado a conversão e o torna apóstolo, e não um homem comum.
João Crisóstomo, contra o arianismo, usa o trecho da carta que diz “Por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai”, afirmando que os dois são Um em unidade e não o Filho inferior ao Pai. O Filho tem o mesmo poder do Pai, ele morre e ressuscita; é Cristo que opera a ressurreição.
“[...] e todos os irmãos que estão comigo,” com essas palavras diz que seus ensinamentos não partem de uma compreensão individual, mas que existem outros que compartilham esse mesmo pensamento. Em seguida, volta a combater os hereges com novos argumentos que mostram que não tem como o Filho estar abaixo do Pai.
Além dos arianos, combate a doutrina dos maniqueus, que pregam a concepção do mal como não gerado, a preexistência da matéria e a recusa do Antigo Testamento. Com isso, diz que o mau no mundo exposto por Paulo não é o mesmo da compreensão do maniqueísmo, senão, seriam justificáveis os homicídios e suicídios como fuga de uma realidade maléfica. O mal apresentado na carta é a má vontade dos homens, suas ações e suas circunstâncias.
Paulo, a partir de Cristo, refere-se a Deus como Nosso Pai, mostrando que a Nova Aliança é agradável a Ele. Depois das palavras introdutórias encerra com a doxologia e o Amém, mostrando que tudo está consumado, não precisa de mais palavras. Daí começa as repreensões aos Gálatas.
Primeiro pela infidelidade aos Evangelhos, aceitando apenas um, quando passaram a seguir idéias marcionitas, lembra Crisóstomo e completa que todos os quatro Evangelhos juntos formam apenas Um Evangelho de Cristo. Eles esquecem os ensinamentos de Cristo e voltam praticar costumes judaicos, como a circuncisão, o jejum no mesmo dia dos judeus e a observância do sábado. E não somente as práticas judaicas, mas um sincretismo com os pagãos, quando observam os sinais da natureza pra predizer algum acontecimento ou superstições que são semeadas no crescimento da criança. E Paulo continua, se alguém anunciar algum ensinamento contrário ao Evangelho, seja considerado anátema, mesmo se fosse ele próprio que dissesse.
Paulo não busca agradar aos homens e sim a Deus, pois é Deus que ele busca. Crisóstomo confirma dizendo que se Paulo quisesse agradar aos homens, estaria do lado dos judeus e perseguiria a Igreja de Deus. E retoma o que disse no início, onde não foi nenhum homem comum que lhe transmitiu aquilo que prega, mas o próprio Cristo. Se não fosse Ele próprio, não teria uma mudança de vida radical como teve, e se coloca como exemplo, antes um perseguidor, depois um pregador daquilo que perseguia. Fala disso, sem ter vergonha, usa como um verdadeiro testemunho. Deus o escolheu desde o nascimento, mas somente com a Revelação de Cristo que reconheceu seu ministério.
João Crisóstomo dá um dos motivos pelo qual admira tanto o apóstolo, é devido sua humildade, pois na carta ele diz apenas onde foi, e não quantos e quem converteu. Não se vangloriava, e seu caminho era cheio de perigos e perseguições, porque ele incomodava a todos com a Verdade. Em seguida, exalta novamente a humildade dele, quando mostra que o apóstolo foi se encontrar com Pedro, e fazer-se conhecer, já que não tinha necessidade disso, por não precisar de Pedro. Em conseqüência disso, torna-se grande amigo do discípulo. Destaca a humildade também no fato de querer justificar-se, e após estar com Pedro, volta a sua missão, e fica feliz sem vangloriar-se por alguns aceitarem tudo o que pregou.
No segundo capítulo do livro, relembra a viagem de Paulo a Jerusalém, onde ouve o primeiro Concílio, que tratou de questões como a circuncisão. E condena os “irmãos” infiltrados, que dentro da comunidade pregam uma verdade contrária, semeando a discórdia. Estes que pregam uma falsa verdade terão que prestar contas com Deus, e que ele nada iria interferir. Completa falando que veio para os gentios e os outros (apóstolos) para os judeus.
Tinham resolvido o problema da circuncisão, porém ocorre um incidente em Antioquia, que a princípio parece que Pedro é acusado por Paulo de hipócrita, pelo fato de Pedro estar com medo dos circuncisos. Crisóstomo novamente explica o motivo das palavras de Paulo e da situação. Como em Jerusalém ainda permitiam a circuncisão, não podiam simplesmente afasta-los da Lei de modo radical, e Pedro tinha medo que se escandalizassem com a pregação, por isso agiu com prudência, daí Paulo o repreende, pois ele não precisa ter medo.
A partir das palavras de Paulo, João Crisóstomo faz um belo discurso, sobre a Lei e a fé em Cristo. Em Cristo, não precisa seguir os preceitos da Lei, e não tem como seguir os dois. Quem segue um preceito da Lei deve segui-la toda, quem circuncisa deve continuar guardando os sábados, imolando animais. Se não aceita as palavras de Cristo, fique com a Lei. Se a justiça vem pela Lei, Cristo morreu em vão.
Finalizando o capítulo, João Crisóstomo acentua o amor de Paulo por Cristo e da mesma forma o de Cristo pela humanidade, por ter se entregue por ela. Como significado desse amor, fica as palavras: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”.

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