sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Análise da Epístola de Barnabé [apócrifo]


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Patrologia - 15/09/2010.

Na epístola atribuída a Barnabé, percebe-se que o autor é tendencioso, por fazer uma interpretação particular das escrituras e usá-las como argumento pra provar sua idéia, principalmente contra os judeus. Assim como a apresentação da carta mostra, é notório que é dividido em uma parte dogmática e outra moral.
É considerado apócrifo, pois foi encontrado depois do fechamento do cânon, mesmo assim, tem em seu conteúdo ensinamentos que não condizem com a realidade das comunidades cristãs. Entende-se que, se fosse do conhecimento na época do fechamento do cânon, ainda continuaria fora, como apócrifo. Nesse texto, poder-se-á observar que, mesmo sendo considerado um texto não inspirado, encontra-se elementos que não podem ser descartados.
Sobre os sacrifícios, diz que Deus não quer nenhum sacrifício, o que é plausível, pois acaba com o derramamento de sangue, e completa dizendo que isso foi substituído pela lei de Jesus Cristo. Em seguida, exagera quando fala sobre o jejum, negando-o completamente dando um outro sentido, pra o que ele afirma ser o verdadeiro jejum. Esquecendo que Jesus também jejuou (Mt 4,2) e ensinou como deve ser o verdadeiro jejum (Mt 6,16-18). Mas, o que ele propõe como jejum: “Desata todas as amarras da injustiça; desfaz as cordas dos contratos iníquos; envia os oprimidos em liberdade; rasga toda escritura injusta; reparte teu pão com os famintos; se vês alguém nu, veste-o; conduz para a tua casa os desabrigados; se vês algum pobre, não o desprezes; não te afastes dos membros de tua família”. É o que ensina Jesus, como mostra os evangelhos.
Lembrando que o autor é tendencioso, isso se expressa mais nitidamente em relação aos judeus, principalmente em relação à Aliança, afirmando que os judeus a perderam: “Pesquisemos, para ver se ele deu ao povo a Aliança que prometera juramento a seus antepassados. Certamente ele a deu, mas eles não foram dignos de recebê-la, por causa de seus pecados.”, por terem feito ídolos enquanto Moisés estava no Sinai. E que a Aliança é apenas para os cristãos: “Claro que ela é nossa.”, pois ela foi selada por Jesus Cristo nos corações dos fiéis.
Nos capítulos seguintes, narra sobre Cristo. A princípio fala da paixão e morte de Jesus (cap. 5); em seguida faz do texto uma exegese (cap. 6); E por fim, que Jesus é cordeiro que morreu pela expiação dos pecados (cap. 7 e 8).
No capítulo 9, ele inicia bem falando da circuncisão, substituindo a da carne para a do coração e termina com uma interpretação duvidosa e estranha: “E Abraão circuncidou entre os homens de sua casa trezentos e dezoito homens. Qual é, portanto, o conhecimento que lhe foi dado? Notai que ele menciona em primeiro lugar os dezoito e depois, fazendo distinção, os trezentos. Dezoito se escreve: I, que vale dez, e H, que representa oito. Tens aí: IH(sous) = Jesus. E como a cruz em forma de T devia trazer a graça, ele menciona também trezentos (= T). Portanto, ele designa claramente Jesus pelas duas primeiras letras e a cruz pela terceira.
Já a interpretação seguinte sobre o significado espiritual das prescrições alimentares, é aceitável e interessante. Pois, segundo ele não existe uma proibição a comer esses animais, mas sentar-se á mesa com pessoas que se assemelham a eles. Ele citou Moisés e Davi, porém faltou lembrar que Jesus muda essa realidade sentando-se a mesa para comer com pecadores e cobradores de impostos.
Na parte doutrinária, ainda fala sobre a cruz de Cristo, sobre o sábado, a água do batismo e sobre o templo. Os assuntos citados nessa parte, geralmente não têm ligação, e ele finaliza com a conclusão: “Eu vos expliquei essas coisas com a maior simplicidade possível, e espero não ter deixado nada de lado. Com efeito, se vos escrevesse sobre o presente ou o futuro, não compreenderíeis, pois isso permanece em parábolas”. Daí faz surgir o questionamento: “Por que e pra quem escreveu?”.
Por fim, na segunda parte, nos ensinamentos morais, assim como o capítulo primeiro da carta e a introdução do capítulo 2, ele escreve bem, e defini-los-ia como a parte não apócrifa do texto, pois poderia pega-lo todo sem cortes. É importante colocar o que ele diz sobre os ensinamentos do Senhor: “Os ensinamentos do Senhor são três: a esperança da vida, começo e fim da nossa fé; a justiça, começo e fim do julgamento; o amor, testemunho pleno da alegria e contentamento das obras realizadas na justiça”. E finaliza mostrando dois caminhos: um das trevas e um da Luz, e no da Luz relembra o decálogo, ou seja, praticar o bem e evitar o mal.

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