quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Rerum novarum e Deus Caritas est


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral (Social) - 29/09/2011.
Duas encíclicas, distantes 114 anos no tempo cronológico e bem próximas no conteúdo que apresentam. A primeira, Rerum novarum, escrita pelo Papa Leão XII, a 15 de maio de 1891, vai tratar sobre a condição dos operários, debatendo a jaez das classes trabalhadoras. A segunda, Deus Caritas est, escrita pelo Papa Bento XVI, de 25 de dezembro de 2005, direcionada aos bispos, presbíteros e diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre o amor cristão, ou melhor, o amor de Deus pelo ser humano.
A Rerum novarum nasceu no período da revolução industrial. A partir disso, o papa Leão XIII vai criticar a atitude dos grandes empresários quanto à atitude deles com seus funcionários, fazendo-os trabalhar em situações precárias, escassas e com pouco rendimento como retorno ao trabalho; operários e patrões devem o mútuo respeito, os primeiros não prejudicando os seus empregadores, e em situação de desgosto, não usar a violência, os segundos, reconhecendo o valor humano do outro, não provendo contra a economia dos mais pobres, não os tornando mais pobres.
Lembra que os socialistas procuraram resolver esse problema, e faz uma nova crítica aos socialistas, valorizando a propriedade particular, pois essa é para o homem um direito natural [5]: “Não vêem, pois, que despojam assim esse homem do fruto de seu trabalho; porque, afinal, esse campo preparado com arte pela mão do cultivador, mudou completamente de natureza, era selvagem, ei-lo arroteado: de infecundo, tornou-se fértil; o que tornou melhor, está inerente ao solo e confunde-se de tal forma com ele, que em grande parte seria impossível separá-lo. Suportaria a justiça que um estranho viesse então atribuir-se esta terra banhada pelo suor de quem a cultivou? Da mesma forma que o efeito segue a causa, assim é justo que o fruto do trabalho pertença ao trabalhado.” [7]. Em seguida, coloca a família como uma instituição que não deve ser administrada pelo Estado.
Nas palavras da encíclica, não é o comunismo que vai melhorar a sociedade, já que isso é uma responsabilidade da Igreja, “é a Igreja, efetivamente que haure no Evangelho doutrinas capazes ou de pôr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando-o de tudo o que ele tenha de severo e áspero; a Igreja que não se contenta com esclarecer o espírito de seus ensinamentos, mas também se esforça em regular, de acordo com eles a vida e os costumes de cada um; a Igreja, que, por uma multidão de instituições eminentemente benéficas, tende a melhorar a sorte das classes pobres; a Igreja, que quer e deseja ardentemente que todas as classes empreguem em comum os seus conhecimentos e as suas forças para dar à questão operária a melhor solução possível; a Igreja, enfim, que julga que as leis e a autoridade pública devem sem dúvida, com medida e prudência, prestar seu concurso para esta solução [10].
Ainda vai discutir as obrigações do governo, a importância dos negócios e do trabalho. Porém, interessa nesse estudo, a compreensão social a partir da encíclica seguinte, a Deus Caritas est. Concluindo, e posto como solução para os problemas coevos, cita a Caridade, das virtudes teologais, a única que não acaba, mesmo em compreensão escatológica. Dessa apreensão, faz necessário usar o texto de Leão XIII, ipsissima verba: “Vede, Veneráveis Irmãos, por quem e por que meios esta questão tão difícil demanda ser tratada e resolvida. Tome cada um a tarefa que lhe pertence; e isto sem demora, para que não suceda que, adiando o remédio, se tome incurável o mal, já de si tão grave.
Façam os governantes uso da autoridade protectora das leis e das instituições; lembrem-se os ricos e os patrões dos seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas; e, visto que só a religião, como dissemos no princípio, é capaz de arrancar o mal pela raiz, lembrem-se todos de que a primeira coisa a fazer é a restauração dos costumes cristãos, sem os quais os meios mais eficazes sugeridos pela prudência humana serão pouco aptos para produzir salutares resultados. Quanto à Igreja, a sua acção jamais faltará por qualquer modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se possa desenvolver.
Nós desejamos que compreendam isto sobretudo aqueles cuja missão é velar pelo bem público. Em-preguem neste ponto os Ministros do Santuário toda a energia da sua alma e generosidade do seu zelo, e guiados pela vossa autoridade e pelo vosso exemplo, Veneráveis Irmãos, não se cansem de inculcar a todas as classes da sociedade as máximas do Evangelho; façamos tudo quanto estiver ao nosso alcance para salvação dos povos, e, sobretudo, alimentem em si e acendam nos outros, nos grandes e nos pequenos a caridade, senhora e rainha de todas as virtudes. Portanto, a salvação desejada deve ser principalmente o fruto duma grande efusão de caridade, queremos dizer, daquela caridade que compendia em si todo o Evangelho, e que, sempre pronta a sacrificar-se pelo próximo, é o antídoto mais seguro contra o orgulho e o egoísmo do século. Desta virtude, descreveu S. Paulo as feições características com as seguintes palavras: «A caridade é paciente, é benigna, não cuida do seu interesse; tudo sofre; a tudo se resigna»” [37].
Terminando o texto de Leão XIII e iniciando o de Bento XVI, a caridade, toma um aspecto mais profundo. O do amor de Deus. A atual encíclica é dividida em duas partes: a primeira sobre a unidade do amor na criação e na história da salvação; a segunda, que aprofunda o presente estudo, com o tema: Caritas – A prática do amor pela Igreja enquanto “comunidade de amor”.
Bento XVI redime a palavra amor, que estava sendo mal usada através da história, tornando-se um objeto de uso, uso errôneo na classificação, desejo e impulsos humanos. E coloca que o Amor está além, principalmente quando este vem de Deus: “Deus ama tanto o ser humano, que tendo-se feito, ele próprio, homem, segue-o até a morte e, desse modo, reconcilia justiça e amor” [10].
Em retribuição ao amor de Deus, mostramo-lo a nosso próximo, assim como Jesus, Deus-Filho fez. Nessa perspectiva, a encíclica Deus Caritas est encontra com a Rerum novarum, uma vez que reconheço no rosto do próximo o rosto de Deus, e percebo que o próximo é aquele que precise de mim e eu posso ajudá-lo [15]. “Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como ele me ama [18].
E como a Igreja exerceu a caridade ao longo da sua história?
“Deus é amor”, é caridade, por isso, seguindo o que Jesus ensinou que devemos amar ao próximo, e usando as palavras do doutor da lei que é narrado no Evangelho de Lucas, “Quem é meu próximo?” toma-se como discussão de quem a Igreja se tornou próxima ao longo da sua história.
Desde o início da Igreja, a caridade foi uma grande e destacável característica, sendo os bispos grandes pastores de um rebanho desamparado e necessitado, ajudavam e respeitavam os pobres e cárceres com grande respeito. Logo, com Constantino, os bispos de Roma serão concebidos como “pater pauperum”.
Nesse período de Igreja pós-apostólica, surgiram os hospitale para acomodar e cuidar dos desamparados e enfermos. Era um refúgio para os pobres, onde era notável a essência de uma caridade cristã, que em pouco tempo se espalha por toda parte, ganhando seguidores empenhados em fazer a caridade.
Como exemplos de pessoas dedicadas ao povo, destacam-se Ambrosio, que criticava os ricos; Jerônimo, que transmitiu exemplos de caridade para o povo; Senador Panáquio e sua esposa Paulina, que dedicavam aos pobres e criaram um hospital; São Francisco de Assis que abandonou tudo para ter uma vida humilde e fazendo caridade; Pontífices como: Leão Magno, Gelásio I e Símaco.
No final da Idade Média, a devoção ao protetor do trabalhador, São José era grande, por isso dava ênfase que os pobres eram uma desgraça da sociedade, que sua condição não o permitia melhorar de vida. Ser pobre era ser considerado marginal.
Os bispos perderam sua essência, e deixaram de ser “pai dos pobres” e passaram a ser pessoas que cobiçavam grande poder e dinheiro. Em determinadas situações, chegavam ao extremo de não consagrar o oficio divino, não sepultar ou realizar procissões por não receberem a quantia de dinheiro que queriam.
Apesar disso, os ricos davam um pouco do que tinham aos mais necessitados, mesmo que fosse o mínimo. Com isso, a miséria não foi tão grave. Daí surgiu a idéia de que nenhuma migalha deve ser jogada fora, tudo deve ser consumido.
Porém, a Igreja não abandonou completamente seus pobres, também surgiram congregações religiosas, como os franciscanos e os dominicanos, que viviam em lugares periféricos e dedicavam suas vidas aos mais necessitados. Diante desse problema, e voltando a encíclica, é notório lembrar que a Igreja acorda para essas realidades, como foi visto na Rerum novarum sobre os operários.
A Igreja, não deve tomar o lugar do Estado, mas na sua missão evangélica, tem o dever de estar pronta para iniciar mudanças e mediar conflitos entre Estados. Na sua missão da Caridade, do Amor, cabe a cada fiel, corpo vivo da Igreja, zelar por essas mudanças na sociedade. Pois o Amor é uma prática feita em comunhão.
Portanto, as encíclicas Rerum novarum e Deus Caritas est, apresentam em comum, é o compromisso do cristão em exercer as mudanças na sociedade, e assim como Jesus Cristo, anunciar o Reino de Deus. Por isso que devemos permanecer no Amor, como lembra São Paulo, só o Amor não passará. 

sábado, 24 de setembro de 2011

Obra cinematográfica "Narradores de Javé" em comparação com a Tradição bíblica


Em analise ao filme ‘Narradores de Javé’ e a formação do povo da Bíblia, encontra-se pontos em comum e pontos teológicos. E esses pontos teológicos são os fundamentais para uma compreensão enriquecedora do filme.
Um ponto importante, que é notório, é a tradição oral, onde o povo conta e reconta sua história através das gerações, pra contar a sua formação. E em determinado momento vêem-se na necessidade de escrever sua história.
Ligando a outro ponto, é a autenticidade dos dados narrados. E surge a pergunta: “Quem narra de forma correta os fatos?”, diferente da Bíblia, que está ligada à questões de fé, inspiração e Revelação.
Em todas as narrativas do povo, é citado o nome do mesmo fundador do povoado, e em todas os narradores têm uma relação genealógica com o fundador. Lembrando Abraão, o primeiro patriarca, que tem sua genealogia estendida a muitos personagens bíblicos.
No povoado de Javé, há a presença do sino da igreja, que lembra a Arca da Aliança, que caminha com seu povo por onde ele vai. Chegam e saem da terra com o sino. Existe um grande respeito por ele, quando toca o povo se reúne.
Em Javé, surge uma figura profética, um morador antigo, que vê o cenário, a realidade e mostra as conseqüências disso para o povo, sem pretensão de revelar o futuro. Tanto os fundadores de Javé, quanto os hebreus saídos do Egito, buscam uma "terra prometida". E os dois, são "invadidos" por pessoas (povos) que querem usufruir da região sem preocupar com o povo já ali presente.


Título original: (Narradores de Javé)
Lançamento: 2003 (Brasil)
Direção: Eliane Caffé
Atores: José Dumont, Matheus Nachtergaele, Jorge Humberto e Santos, Gero Camilo.
Duração: 100 min
Gênero: Drama


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A figura do profeta e sua palavra

O profeta não nasce do acaso, sua visão profética vem da interpretação e elaboração de uma realidade cultural, social, política, econômica e até mesmo religiosa, em que vive. Ele surge como um anunciador é o porta-voz de Deus, e sua vocação está diretamente ligada ao seu contexto social, já que pode ser agricultor, pastor, filho de profeta, estrangeiro, ser do templo ou da corte, homem ou mulher (profetisa, como exemplo a esposa de Isaías). Sua vocação vem do chamado de Deus.
A mensagem do profeta pode ser dedutiva ou de “vidente”. Sendo que, a idéia de vidente para o profeta vem dos povos pagãos, onde os oráculos faziam previsões para o futuro (exemplo, oráculo de Delfos). Mas, são poucos que são assim chamados ou se dão esse nome. E também, poucos os que faziam a promessa messiânica, apesar da tradição cristã resumir os profetas como anunciadores do Messias.
Por causa de sua palavra, o profeta bíblico pode ser perseguido ou ser respeitado. Ele não cede e toma partido, é fiel a sua vocação e não um bajulador como os profetas dos outros povos. Sua palavra não muda, apenas sofre adaptações ao período em que vive. Está carregada de muitos símbolos, e tem gêneros literários diferentes, por  isso exige uma interpretação adequada para evitar uma confusão do texto quando lido literalmente.
Apesar do tempo em que foi escrito e o motivo pelo qual foi, pode-se afirmar que a mensagem profética ainda é atual, porque mesmo em contextos diferentes, os problemas que atingem a sociedade são os mesmo, divergindo em apenas alguns pontos. Porém, deve-se ter cuidado para não interpretar um texto antigo como previsão do que está acontecendo nos tempos atuais.

Exegese de Daniel 7


Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Exegese Bíblica (Apocalíptica - Antigo Testamento) - 08/06/2011.
  1. A perícope no conjunto da obra:
O livro de Daniel é um livro apocalíptico, um gênero literário que surge em momentos de crise extrema. Seu relato é obscuro, caracterizado por um grande número de imagens e símbolos, que são códigos compreensíveis apenas para o grupo a quem se dirige, para que os que não pertencem à comunidade não compreendam a sua mensagem. Além de fazer menção a relatos de forma velada, tem como objetivo geral trazer a esperança para o povo fiel, representado pelos macabeus.
O autor, que se intitula Daniel, escreve o livro por volta do ano 175-164 aC, no período dos macabeus, que estavam sendo perseguidos pelos selêucidas, mas como artifício literário o autor coloca-se entre os anos 600 a 500 aC, no período dos babilônios.
Ele não está preocupado com a narrativa dos fatos e sim com a mensagem que ele transmite, já que ele quer incentivar a fé e a esperança diante da dominação grega. Exemplo disso é o capítulo 7.
O livro é o único que se encontra em vários idiomas, sendo que se encontra em grego (3,52-90; 13 e 14), aramaico (2,4b–7,28), hebraico (1,1–2,4a e capítulos 8 a 12) e um acréscimo em latim em 14,42, que corresponde à benção do rei, que se encontra apenas na tradução da vulgata. Apesar dos três idiomas principais, o livro é dividido em duas partes: de 1 ao 6 onde há relatos dos sonhos e as interpretações de Daniel. E de 7 ao 12, onde há os relatos das visões.
O capítulo 7 em especial é o marco que divide os sonhos das visões, pois o mesmo texto apresenta os dois elementos. Ele lembra o capítulo 2, que relata o sonho da estátua, pois seu significado é parecido.

  1. Analise lingüística:
1- No primeiro ano de Baltasar, rei de Babilônia, Daniel, estando em seu leito, teve um sonho, e visões lhe assomaram a cabeça. Ele redigiu o sonho por escrito. Eis o começo da narrativa:
Através de sonhos e visões, Daniel coloca os animais como anúncios pré-cognitivos, como se não conhecesse a história até o período da dominação do império grego.
O sonho e as visões são características comuns no apocalipse, onde há cenas incompreensíveis sem uma interpretação. O autor escreve o sonho: ele guarda o que vê até o momento certo de revelar o que viu.
2- Tomou a palavra Daniel, dizendo: Eu estava contemplando a minha visão noturna, quando vi os quatro ventos do céu que agitavam o grande mar.
O relato acontece na visão noturna, pois está sonhando, e o gênero apocalíptico apresentado é em sonho; os quatro ventos referem-se a todos os lugares do mundo (quatro lados do mundo); o grande mar quer dizer, que os Impérios sairão de terras além do mar.
3- E quatro animais monstruosos subiam do mar, um diferente do outro.
Os quatro animais são quatro reinos, os mesmos mencionados no capítulo 2. Esses reinos são Babilônia, Média, Pérsia e Grécia.
4- O primeiro era semelhante a um leão com asas de águia. Enquanto eu o contemplava, suas asas lhe foram arrancadas e ele foi erguido da terra e posto de pé sobre suas patas como um ser humano, e um coração humano lhe foi dado.
O leão é um símbolo babilônico e representa seu poder; suas asas são o seu grande poder; elas são arrancadas, pois o império perde o poder.
5- Apareceu um segundo animal, completamente diferente, semelhante a um urso, erguido de um lado e com três costelas na boca, entre os dentes. E a este diziam: “Levante-te, devora muita carne!”
O urso é o império dos medos. Ele estava de pé, pois estava preparado pra atacar; é um império com toda a sua força, pronto pra atacar qualquer povo, mesmo que ele seja bom e completo (três).
6- Depois disso, continuando eu a olhar, vi ainda outro animal, semelhante a um leopardo, que trazia sobre os flancos quatro asas de ave; tinha também quatro cabeças e foi-lhe dado o poder.
O leopardo é o império persa. É um império cujo poder pode dominar todo o mundo se o quiser, pois tem quatro asas e quatro cabeças (lembrando os quatro cantos do mundo) e, por ter quatro cabeças, tem potencial para ter chifres, que representa muito poder.
7- A seguir, ao contemplar essas visões noturnas, eu vi um quarto animal, terrível, espantoso, e extremamente forte: com enormes dentes de ferro, comia, triturava e calcava aos pés o que restava. Muito diferente dos animais que o haviam precedido, tinha este dez chifres.
O quarto animal é o império grego, que tinham armas que nenhum outro povo conhecia, além de ferramentas e arsenal para guerra. Esses dez chifres representam os dez reis gregos.
8- Enquanto eu considerava esses chifres, notei que surgia entre eles ainda outro chifre, pequeno, diante do qual foram arrancados três dos primeiros chifres pela raiz. E neste chifre havia olhos como olhos humanos, e uma boca que proferia palavras arrogantes.
Nesse versículo, termina o relato do sonho.
O chifre pequeno é Antíoco Epífanes que se impôs sobre seus rivais (três reis) eliminando-os. O chifre pode ser usado como corneta, por isso proferia palavras arrogantes, não respeitando nada. Seus olhos são o conhecimento; é um rei que conhece tudo o que acontece.
9- Eu continuava contemplando, quando foram preparados alguns tronos e um Ancião sentou-se. Suas vestes eram brancas como a neve; e os cabelos de sua cabeça, alvos como a lã. Seu trono eram chamas de fogo com rodas de fogo ardente.
Uma cena celeste mostra Deus em sua majestade. Deus é o Ancião, o Rei, o Juiz, o Sacerdote.
Ancião é alguém sábio e justo; vestido de branco é um sacerdote; o cabelo branco porque é idôneo, é um juiz, também pode simbolizar a eternidade.
            Deus está em um trono com chamas de fogo, pois ele é fogo devorador.
10- Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Mil milhares o serviam, e miríades de miríades o assistiam. O tribunal tomou assento e os livros foram abertos.
            Deus é o juiz, por isso ele abre os livros, onde há as sentenças; as miríades são seus assessores.
11- Eu continuava olhando, então, por causa do ruído das palavras arrogantes que proferia aquele chifre, quando vi que o animal fora morto, e seu cadáver destruído e entregue ao abrasamento do fogo. 12- Dos outros animais também foi retirado o poder, mas eles receberam um prolongamento de vida, até uma data e um tempo determinados.
            Deus julgou todos os impérios, como lembra Dn 5, seus poderes tiveram os anos contados e pesados; receberam sua sentença e tiveram um fim;
13- Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho do Homem. Ele adiantou-se até ao Ancião e foi introduzido à sua presença.
O Filho do homem não é nenhuma referência ao Messias, apesar de ser atribuído a Jesus posteriormente. Aqui ele é apresentado em oposição às feras. É um ser totalmente humano, pois é Deus governando, e Ele governa com humanidade, ao contrário dos outros que governam com animalidade. As nuvens são o carro de Deus; Deus desce do céu e vem governar com seu povo;
14- A ele foi outorgado o império, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará, e seu reino jamais será destruído.
Agora Deus governa e seu reino é eterno e não passageiro como dos outros reinos. Seu poder não será sobreposto por nenhum outro, pois Ele é mais poderoso.
15- Eu, Daniel, fiquei inquieto no meu espírito, e as visões de minha cabeça me perturbavam.
            Daniel fica inquieto e perturbado com a visão, porque é difícil de entender. Este é um artifício próprio do gênero apocalíptico.
16- Aproximei-me de um dos que estavam ali presentes e pedi-lhe me que dissesse a verdade a respeito de tudo aquilo. E ele me respondeu, fazendo-me conhecer a interpretação dessas coisas:
            Por ser uma visão difícil, Daniel precisa de ajuda pra entender. Então se aproxima de um dos assessores do Juiz, para que estes possam ajudá-lo no desvelamento da visão.
17- “Esses animais enormes, em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra.
            Como citado antes, esses animais são os reinos.
18- Os que receberão o reino são os santos do Altíssimo, e eles conservarão o reino para sempre, de eternidade em eternidade”.
            Os santos do Altíssimo são os macabeus ou todos aqueles que permaneceram fiéis. O autor de Daniel, esperando o momento de libertação de Antioco IV e vivendo na esperança que seu povo um dia poderá estabelecer uma nação, demonstra sinais de esperança através das palavras de que conservarão o reino para sempre, de eternidade em eternidade.
Porém, fica claro, que o autor não previu o futuro e sim é contemporâneo aos macabeus, que faz memória do passado. Devido a isso, não sabe que serão dominados pelos romanos, anos depois.
19- Quis, então, saber a verdade acerca do quarto animal, que era diferente de todos os outros, extremamente terrível, com dentes de ferro e garras de bronze, que comia e triturava, e depois calcava aos pés o que restava; 20- e também sobre os dez chifres que estavam na sua cabeça – e outro chifre que surgiu e diante do qual três dos primeiros caíram, esse chifre que tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes, e cujo aspecto era mais majestoso que o dos outros chifres... 21- Estava eu contemplando: e este chifre movia guerra aos santos e prevalecia sobre eles, 22- até o momento em que veio o Ancião e foi feito o julgamento em favor dos santos do Altíssimo. E chegou o tempo em que os santos entraram na posse do reino. 23- E ele continuou: “O quarto animal será um quarto reino sobre a terra, diferente de todos os reinos. Ele devorará a terra inteira, calcá-la-á aos pés e a esmagará. 24- Quanto aos dez chifres: são dez reis que surgirão desse reino, e outro se levantará depois deles; este será diferente dos primeiros e abaterá três reis; 25- proferirá insultos contra o Altíssimo e porá à prova os santos do Altíssimo; ele tentará mudar os tempos e a Lei, e os santos serão entregues em suas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo. 26- Mas o tribunal dará audiência e o domínio lhe será arrebatado, destruído a nada até o fim.
            Nesses versículos há uma repetição dos relatos anteriores. São retoques feitos pelo redator, onde termina mostrando que o julgamento de Deus será inabalável e o perseguidor destruído, transformando o caos em cosmos.
Tentar mudar os tempos e a Lei é uma referência a Antíoco IV que quis mudar o calendário judaico para acabar com as festas e a Lei, que é a Tora.
Metade de um tempo significa três anos e meio, que é metade de sete (um período completo). Esse tempo, por não ser um número completo, indica que a perseguição terá seu fim.
27- E o reino e o império e as grandezas dos reinos sob todos os céus serão entregues ao povo dos santos do Altíssimo. Seu império é um império eterno, e todos os impérios o servirão e lhe prestarão obediência”.
            Novamente surge a esperança do autor: no fim, Deus governará tudo.
28- Aqui termina a narrativa. Eu, Daniel, fiquei muito perturbado em meus pensamentos, e a cor do meu rosto mudou. E conservei tudo isto em meu coração
            Daniel relembra que tudo foi perturbador e por isso fica pensativo. Ele guarda tudo no coração, já que não é o momento de revelar nada a quem esta no poder. Ele espera pacientemente o momento de Deus agir.

  1. Análise Pragmática
É um tempo de intensa helenização  de Jerusalém e dos territórios judaicos. Antíoco Epífanes profanou o templo, e produziu um grande abismo entre os judeus: os que aceitam as práticas helenísticas e os que permanecem fiéis à cultura político-religiosa, os macabeus.
Devido a isso, o autor vem mostrar através desse texto, uma lição de esperança para o povo que estava sofrendo perseguição de Antíoco Epífanes, por isso ele relembra o passado, mostrando para a comunidade para a qual escreve que eles também já foram dominados por outros impérios poderosos, e que Deus agiu e os libertou. Daí ele quer mostrar ao povo que Deus também iria intervir sob a ameaça que estavam sofrendo, pois Deus não abandona os fiéis.
  1. Hermenêutica
Hoje, para uma melhor compreensão das palavras de Daniel, podemos lembrar o trecho da música que diz “apesar de você amanhã há de ser outro dia”. Diante das diversas dificuldades que surgem ao longo da vida, devemos ser perseverantes e ter esperança em Deus, pois Ele mesmo não interferindo diretamente nas nossas vidas, está caminhando conosco. E mesmo que as nossas dificuldades sejam o domínio de outros, seja através das palavras, ações e até mesmo privação da nossa liberdade, Deus julgará o opressor e recompensará os cativos.

Convite aos católicos

Propaganda da Igreja Católica

Esse vídeo não tem a intenção de um proselitismo, mas sim um convite aos católicos, para que possam repensar sua fé e na fidelidade à sua Igreja.

sábado, 17 de setembro de 2011

Jesus vai ao estádio

Jesus Cristo nos disse que nunca havia visto uma partida de futebol. Então meus amigos e eu o levamos para que assistisse a um jogo. Foi uma batalha tremenda entre os “Punchers”, protestantes, e os “Crusaders”, católicos.

Quem marcou primeiro foram os “Crusaders”. Jesus aplaudiu alegremente e jogou para cima seu boné.
Depois os “Punchers” marcaram, e Jesus voltou a aplaudir entusiasmado e novamente seu boné voou pelo ar.

Isso parecia confundir um homem que estava atrás de nós. Então ele deu um tapinha no ombro de Jesus e perguntou-lhe:
- Para que time você está torcendo, cara?
- Eu? – respondeu Jesus visivelmente animado pelo jogo. – Ah! Eu não torço por nenhum time, apenas desfruto o jogo.
O homem voltou-se para seu vizinho da arquibancada e, fazendo um gesto de desagrado, cochichou-lhe:
- Hum... Um ateu!

Ao voltarmos, informamos Jesus da situação religiosa do mundo atual, dizendo:
- É curioso o que acontece com as pessoas religiosas, Senhor. Sempre parecem pensar que Deus está ao seu lado e contra os do outro grupo.

Jesus concordou:
- É por isso que eu apoio, não as religiões, mas sim as pessoas. Estas são mais importantes que as religiões; o homem é mais importante que o sábado.

Então um dos nossos disse a Jesus:
- O Senhor deveria ter mais cuidado com o que diz, pois já foi crucificado uma vez por dizer coisas semelhantes, o senhor se lembra?

E Jesus respondeu com um sorriso irônico:
-É! Exatamente por pessoas religiosas.


Anthony de Mello

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Theótokos (Θεοτόκος)

Eleoúsa (gr.: Ἐλεούσα)

Neste ícone, Maria, com um olhar triste, olha para toda a humanidade que rejeita seu filho. Jesus a segura de forma muito carinhosa confiando em seu amparo maternal. As duas estrelas no manto de Maria lembram a virgindade antes e depois do parto.

Pantocrátor (Παντοκράτωρ)

Como aparece Deus no processo de vida-morte-ressurreição da linguagem


Texto criado a partir do primeiro capítulo da obra do Leonardo Boff, citado abaixo, apresentado ao curso de Teologia na disciplina Teologia Sistemática (Pneumatologia e Graça) - 02/08/2011.


BOFF, Leonardo. Experimentar Deus – A transparência de todas as coisas.


É notória a crise da imagem de Deus apresentada nas religiões, igreja e sociedade contemporânea. Dentre elas ate surgiram interpretações como a “morte de Deus”. Já outros reelaboram as imagens, tornando-as mais “modernas” para atender um novo modelo de sociedade, o que não resolve o problema, apenas substitui uma imagem equivocada por outra.
Da necessidade do homem querer ver Deus, e Deus que por seu amor se deixa mostrar, não é de surpreender que haja a necessidade de perpetuar imagens a seu respeito. Nesse modo de fazê-lo se encontra um Mistério.
Deus não está além do mundo, coabita com sua obra, nela e através dela. E faz ser visto, através de Jesus (Deus Filho), o qual caminhou e viveu na criação sendo visto e ouvido por todos que estavam perto.
A dificuldade de mostra a face de Deus, surge quando Ele não estava visivelmente presente, o que deu origem às mais diversas representações, por exemplo, os ícones, que são escritos a partir da compreensão do autor para a realidade do povo. Essas representações são bíblia pauperum (=Bíblia dos pobres).
Boff, vai apresentar um caminho em três passos, para justificar a imagem de Deus, a partir do imaginário e do recurso da linguagem.
1º). A montanha é montanha: saber-imanência-identificação
“Deus é identificado com os conceitos que dele fazemos. Ele habita nossos conceitos e nossas linguagens”.
Nossa experiência de relação com Deus vai partir de como o concebemos e acolhemos, se o chamamos de Senhor, Pai, Mãe, Santo e até mesmo Rei, Juiz e GAU.
Na forma definida que o abrigamos no nosso coração. Porém, a palavra aprisiona, dando um sentido único.
2º). A montanha não é montanha: não-saber-transcendência-desidentificação
Quando percebemos que uma definição esgota todo um conceito, vemos que Deus recebe imagens de compreensão insuficientes, apenas simbolismos e palavras figurativas. Nosso pensar em Deus deve transcender nossa realidade, pois se Deus é Pai materno ou Mãe paterna, não podemos assimilar com nossos pais e mães terrenos (biológicos).
Deus não se esgota e ninguém pode tentar esgotá-lo, já que é um Deus vivo e não uma palavra morta.
3º). A montanha é montanha: sabor-transparência-identidade
Após um momento de crise sobre a imagem de Deus, e reconhecendo que Ele não pode ser reduzido, torna possível suas representações, não como uma identificação, mas como um acesso a Ele.
Com segurança, poderemos empregar alguns antropomorfismos, se esta for a forma necessária para aproximar Dele, já que o homem é imagem de Deus, e Deus imagem do homem.
Deus está presente em tudo, paneteísmo, depositando a todo instante o seu amor infinito. E por isso não podemos nos limitar a entendê-lo e querer sempre mais conhecê-lo, como é sabido que quem ama procura conhecer o amado ou a amada. Tomando cuidado para não ser prepotente e dar uma definição última, desse Deus que é Mistério e nosso eterno futuro.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quais as contribuições da Gaudium Et Spes para a moral social cristã?



Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral (Social) - 15/09/2011.


A constituição pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo de hoje, a Gaudium Et Spes, vem resgatar o papel do homem como protagonista na história. Pois sendo criatura querida do Pai, carrega em si o germe divino [03], e deve ser atendido pela Igreja na valorização das suas realidades no mundo.
O presente documento é dividido em duas partes principais, precedido de uma introdução tratando a condição do homem no mundo de hoje e finalizado por uma conclusão geral do texto. As duas partes principais tratam da Igreja e a vocação do homem (primeira) e alguns problemas mais urgentes (segunda).
Dentre os problemas que mais afligem a sociedade está a ‘vida econômico-social’, onde o documento lembra que o campo econômico, também deve colocar o homem como seu protagonista e não como seu “consumidor” que vai render sinecura para grupos minoritários. A economia, através do poder que o homem tem sobre a natureza, garante proveito para satisfazer todas as necessidades da família humana [63]. Entretanto, alguns grupos tidos como desenvolvidos, “cegos” pela locupletação acarretada da subjugação de uma classe trabalhadora, não reconhecem o valor dos outros seres humanos e detêm toda a produção agrícola, industrial e de outros trabalhos, tornando as outras classes mais míseras. Com isso, a Igreja, através do documento sob a luz do Evangelho, vem resgatar os valores de equidade e justiça.
O desenvolvimento econômico deve ser visto como algo bom, vendo que a um aumento populacional, e cada indivíduo tem direito aos bens de subsistência, torna-se sabido que é necessário um desenvolvimento que acate todas as realidades. Ao contrário disso, tornar-se-á um male, quando o homem for visto como instrumento de trabalho necessário para a produção e logo um enriquecimento senão o seu ou da sociedade no todo. [66]
Visto que o trabalho é uma prática boa aos “olhos” de Deus, pois através dele que o homem se sustenta, faz-se mister que seja remunerado pelo que trabalhou e não aquém disso. Como ocorrem com indivíduos que recebem um valor tão insignificante a sua atividade, que podem ser considerados, escravos daquele serviço. Fora isso, o trabalho deve proporcionar o desenvolvimento das suas qualidades e personalidades. [67]
Os trabalhadores têm o direito de se organizarem, e formarem associações que lutem pelos seus direitos, visto quando não estiverem satisfeitos. Pois, através da organização é possível tomar medidas necessárias de mudanças, evitando assim conflitos e crises. [68]
Deus criou o mundo para todos, em equidade, por isso, é direito de todos terem um pedaço para viver. E dever de quem tem ajudar aos desfavorecidos, como lembra alguns Padres da Igreja como Basílio, Gregório, Agostinho, Alberto Magno e Boaventura, e posteriormente pelo Papa João XXIII, que diz: “Dever de cada homem, dever urgente do cristão é considerar o supérfluo com a medida das necessidades alheias, e de vigiar que a administração dos bens criados sejam dispostos para vantagem de todos”. Os cristãos são os principais responsáveis por uma mudança econômico-social, trazendo assim o bem para a humanidade e até a paz no mundo, já que carregam desde o batismo, o Espírito, as palavras do Filho lidas no Evangelho, ressaltadas pelas bem-aventuranças. Com Cristo, através de seu amor infinito, todo aquele que quiser mudança, será capaz de fazer diferença em ajudar o irmão no exercício da caridade.

domingo, 11 de setembro de 2011

Análise da obra cinematográfica “O Sonho de Cassandra”



Em “O Sonho de Cassandra” temos dois irmãos, com posturas diferentes, mas com a mesma identidade cultural e familiar. Cresceram em um ambiente onde os valores eram voltados para bens materiais e ao próprio dinheiro, onde a mãe trata a figura paterna com descaso, pelo fato de não ser bem-sucedido financeiramente. Apesar disso, assumem uma consciência moral, divergentes diante de situações extremas, como o ato de matar.

Em primeiro lugar, temos Ian, um irmão mais velho, que é dedicado ao pai, mas vive à “sombra” do sucesso do tio. Um sonhador, que na tentativa de ser rico, coloca sua ambição como desculpa para cometer um homicídio. Sua opção fundamental, diz que a família é mais importante, por isso, matar para “ajudar” o tio é um ato banal.
Logo, temos Terry, um irmão sem ambição, que gosta de ganhar dinheiro em apostas, mas diferente de Ian não o coloca como bem essencial. Também aprendeu que a família é algo importante, porém ele enxerga além disso, ele quer ter sua própria família, cria laços com uma namorada e sonham juntos. Não age com naturalidade, vive sob a opinião de um irmão mais velho imprudente. E só após cometer homicídio é capaz de pensar sozinho o que é certo e o que é errado. Percebe que matar é muito mais sério que apenas ajudar um parente. Após o homicídio passa a ter consciência moral, e essa “pesa” sobre ele e sua personalidade fraca faz com que não aguente o “fardo”.
Nesse enredo, percebe-se que o diretor Woody Allen brinca com simbolismos, usando como inspiração elementos da mitologia grega. Onde provoca o telespectador a questionar "Quem está certo e quem está errado?". Assim, a trama vai se desenrolando a uma verdadeira tragédia.


Título original: (Cassandra's Dream)
Lançamento: 2007 (França, EUA, Inglaterra)
Direção: Woody Allen
Atores: Ewan McGregorColin Farrell, John Benfield, Clare Higgins.
Duração: 108 min
Gênero: Drama

Trabalho apresentado ao curso de Teologia como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral (Fundamental)  - 07/04/2010.

A moral depois do Concílio Vaticano II


O texto a seguir foi meu primeiro trabalho acadêmico, apresentado como requisito parcial de aprovação na disciplina Teologia Moral (Fundamental). Coloco apenas uma parte do trabalho completo, pois foi em grupo, e cito apenas o que escrevi.

Segundo Bernhard Häring, em ‘A moral depois do Concílio’, não precisaremos mais da teologia na “Jerusalém Celeste”. E ainda, na certeza de um dia poder contemplar a Deus, é necessário uma profunda fidelidade a Cristo e a Igreja.
Como estudiosos da Teologia, nunca devemos acreditar que estamos salvos, ou estamos livres da tentação de agradar aos homens, mesmo a custa de algum valor. Em exercício da vocação, devemos servir a humanidade e ajuda-la na sua busca da salvação, apresentando uma mensagem, quer ela agrade ou não.
“Só na fidelidade poderá prestar serviço verdadeiro. Mas fidelidade significa tanto guardar, com respeito, a herança, como prestar ouvido atento e apurado à chamada da hora presente, dado que tal chamada vem de Deus e exige por isso um serviço fiel.” - Bernhard Häring
Devemos tomar consciência que nosso conhecimento permanecerá verdadeiro, embora indistinto. E que não exprimimos a verdade sob um olhar de intuição, e sim aproximadamente, atingindo de variadas formas.  Não devemos ficar presos a uma opinião particular, e para isso o teólogo e as escolas teológicas devem permanecer em diálogo constante. Em nenhum momento, sob o ponto de vista de uma Igreja única.
A coragem de fidelidade não nos é natural. É baseada nas promessas de Cristo. A fidelidade significa em abandonar o pensamento egoísta, e uma luta contra a sabedoria deste mundo. A fidelidade no campo da teologia, baseia-se em “Deixar-se guiar pelo Espírito”. (Rm 8,14 e Gl 5,18)
Nosso pensamento teológico, tem que estar fundamentado pela Sagrada Escritura. É notório para a teologia moral católica, que sua fonte de consulta esta fundamentada nas palavras das Escrituras que quaisquer outros escritos, mesmo filosóficos.
Além da Sagrada Escritura, a fidelidade à Tradição. Abandonando a idéia, talvez preconceituosa de um pensamento do passado ser ultrapassado, sendo que “as doutrinas dos grandes tem um valor imorredouro”. (Bernhard Häring) – O que confere a vitalidade à Tradição, é a fidelidade frente ao Espírito que Cristo nos enviou.

Teologia Moral e o espírito do tempo
A teologia moral, não deve advertir aos cristãos apenas, da forma: “Não vos comporteis segundo o espírito deste mundo” (Rm 12,2), mas também um constante exame de consciência, sob a luz do Evangelho.
O “espírito do tempo” representa o avanço na evolução social, por ele entende-se a expressão corrente da opinião, da vontade e do sentimento, que é característica duma época e informa o pensamento e atividade humana dessa época. Diferente de “espírito do mundo”, que representa a forma concreta de existência cultivada pelo mundo e feita de egoísmo, e que resiste à Cristo.

Teologia moral e teologia dogmática
“A teologia moral bebe nas mesmas fontes que a dogmática, e possui um método idêntico ao seu. Enquanto porém a teologia moral continuar a existir ao lado da dogmática, como disciplina independente, deverá confiar-lhe a prova dogmática da existência de todas as verdades que não são diretamente de natureza teológico-moral. A sua tarefa permanecerá a de explorar, expressa e conscientemente, o caráter dinâmico da verdade salvífica e, baseando-se no dogma, alcançar à custa do próprio trabalho a síntese teológica dirigida à vida.”